segunda-feira, 17 de maio de 2010

Respostas aos exercícios propostos por Henry Virkler no livro “Hermenêutica Avançada”[1]

Quem ainda não possui ou leu o livro Hermenêutica avançada, de Henry A. Virkler (Editora Vida, 1987), não sabe o que está perdendo. Apesar de pequeno (apenas 197 páginas), o livro é muito bom, além de bastante prático e dinâmico, pois contém vários exercícios (sessenta e oito, ao todo) para os estudantes aprimorarem sua hermenêutica e exegese. Nas próximas postagens, procurarei responder (aleatoriamente) a alguns desses exercícios propostos pelo autor. Minha esperança é que isso seja útil a todos aqueles que desejam apresentar-se a Deus como “obreiro aprovado, que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 3.15).

***

PC7: Um autor cristão estava analisando o modo de descobrir a vontade de Deus para a vida de alguém e insistia que a paz interior era um indicador importante. O único versículo que usou em apoio ao seu argumento foi Colossenses 3.15 (“Seja a paz de Cristo o árbitro em vossos corações”). Você estaria de acordo com ele, usando este versículo para provar sua alegação? Por que estaria, ou por que não?

Op. cit. p. 68.

Não estou de acordo com a interpretação do tal autor cristão. Por que não? Vejamos.

Paulo não está falando sobre como descobrir a vontade de Deus para a vida de alguém. Uma rápida olhada no contexto mostrará isso claramente:

    • 12 Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração compassivo, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade,
    • 13 suportando-vos e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim fazei vós também.
    • 14 E, sobre tudo isto, revesti-vos do amor, que é o vínculo da perfeição.
    • 15 E a paz de Cristo, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos [Cl 3.12-15].

Está mais do que claro que o tal autor está inteiramente equivocado em sua aplicação do texto paulino. Paulo não está recomendando aos crentes colossenses que os mesmos recorram à paz de Cristo em seus corações como um indicador da vontade de Deus para as suas vidas, mas que eles deixem que esta mesma paz, para a qual foram eles “chamados em um corpo”, domine em seus corações. A palavra grega para dominar é a palavra βραβευέτω (brabeueto), do verbo βραβεύω (brabeuo), que significa, literalmente, “arbitrar”; “dominar” (caso genitivo); “prevalecer”. Depois de ordenar aos colossenses que se revistam (“Revesti-vos”, no grego, está no modo imperativo) de compaixão, benignidade, humildade, mansidão e longanimidade uns para com os outros (v.12); e do amor, que é o “vínculo da perfeição” (v.14), Paulo também ordena que apenas a paz de Cristo tenha a palavra final nos corações dos crentes (o “domine” também está no modo imperativo, além de estar na voz ativa), para que os mesmos se assemelhem cada vez mais a Jesus (cf. v. 13: “assim como o Senhor vos perdoou…”). Portanto, o texto não trata, de jeito nenhum, acerca de como devemos fazer para reconhecer a vontade de Deus para as nossas vidas, e sim, sobre como devemos nos deixar dominar pelo caráter amável, santo e puro de Cristo em nossas relações com nossos irmãos.

Soli Deo Gloria!

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