terça-feira, 30 de março de 2010

Meu sobrinho, a inspiração da Bíblia, a divindade de Jesus e os liberais

Quando estou de férias em Recife uma de minhas atrações favoritas (senão a favorita) é curtir o meu sobrinho, de três aninhos de idade (e não é porque o nome dele é igual ao meu, viu?!). Como ainda não sou pai, meu consolo é ficar babando por ele (acho que herdei a “corujice” de meus pais). Desta última vez em que fui a minha amada terra, ensinei-lhe a dizer que a Bíblia é a Palavra de Deus.

– “A Bíblia é o que, Leo”?

– “A Palavra de Deus”, respondia ele entusiasticamente, com os punhos cerrados e dando socos no ar, como se estivesse comemorando um gol ou coisa do tipo. Fiquei lhe perguntando repetidas vezes a mesma coisa, e a resposta era sempre a mesma: “A Palavra de Deus, a Palavra de Deus”! Depois disso, dessa vez sem adotar nenhuma metodologia tipo catequética, perguntei-lhe quem era Jesus. Ele pensou um pouco, pensou, e disse: “É… é… é Deus”! Ainda nem tínhamos conversado sobre isso! Nem acreditei no que ouvi, tanto que resolvi forçar mais ainda a barra:

– “E quem é Deus, Leo”?

– “Jesus”, respondeu ele dando de ombros, com aquela simplicidade que é própria das crianças. Depois daquele dia eu quase disse para mim mesmo que agora eu poderia morrer, ops!, ir para Santarém em paz (*).

Depois de mais  dois meses sem falar com meu sobrinho, pedi a minha mãe para levá-lo à casa dela somente para eu matar um pouquinho da saudade que sinto dele. Depois de tantos desencontros (eu ligo e ele não está, ele está e eu não ligo…), o dia finalmente chegou: eu estava, enfim, cara a cara, ou melhor, fone a fone com ele. E adivinhem qual foi a primeira pergunta que lhe fiz?

– “A Bíblia é o que, Leo?” –  perguntei-lhe com aquela expectativa ofegante, para ver se ele ainda lembrava.

“A Palavra de Deus!”, respondeu ele sem hesitar (só não deu para saber se foi com socos no ar). Dois meses depois e ele ainda lembrava! Puxa vida! Nem precisa dizer como me senti, não é mesmo? Bem, depois de ouvir o que queria (egoísta bitolado, eu?!), começamos a conversar sobre sua escolinha, seus amiguinhos, sua “malcriação” (“birra”, para os não-nordestinos), etc, etc, etc.

As declarações de meu sobrinho fariam muita gente se contorcer toda, especialmente os liberais, que negam tanto a inspiração das Escrituras quanto a divindade de Jesus. Para estes, as palavras do  pequeno Leo não revelam apenas a “inocência” de uma criança que ainda não sabe o que diz, mas também a ilusão de toda uma cultura cristã construída sobre uma base mítica – os Evangelhos, que não são, segundo eles, um relato confiável da vida e ministério de Jesus. É exatamente assim que pensa, por exemplo, Rudolf Bultmann, teólogo liberal (roxo, diga-se de passagem), considerado por muitos como um dos maiores eruditos em Novo Testamento do século 20.

Eu realmente penso que não podemos saber quase nada sobre a vida e a personalidade de Jesus, já que as fontes cristãs primitivas [os Evangelhos] não mostram qualquer interesse em ambos, são fragmentárias e frequentemente lendárias; e outras fontes sobre Jesus não existem[1].

Para Bultmann, a Bíblia nada mais é do que o registro das crenças de um povo, a saber, dos judeus e cristãos do primeiro século, nada mais. Ela está cheia de lendas e crenças populares. Não há nenhuma verdade absoluta ali, apenas crendices (lendas).

A comunidade cristã estava convencida de que Jesus havia realizado milagres, e contaram muitas histórias de milagres sobre ele. A maioria das estórias sobre milagres que estão nos Evangelhos são lendas, ou pelo menos estão revestidas de caráter lendário. Não pode haver dúvida, contudo, que Jesus realizou atos que, no seu entendimento e no de seus contemporâneos, eram atribuídos a uma causa divina sobrenatural[2].

Além de eventos como o relato do chamado dos primeiros discípulos (Mt 4.18-22; Mc 1.16-20; Lc 5.1-11), da morte de João Batista (Mt 14.1-12; Mc 6.14-29; Lc 9.7-9), da moeda na boca do peixe, para pagar o imposto (Mt 17. 24-27), e da última Ceia (Mt 26.26-30; Mc 14.22-26; Lc 22.14-20), a própria ressurreição de Jesus é considerada por liberais como Bultmann como mitológica, lendária. Para eles, Jesus não ressuscitou literalmente, mas apenas no coração e na lembrança dos discípulos. Por exemplo, Cristo não esteve literalmente com aqueles dois discípulos no caminho de Emaús (Lc 24.13-35), mas apenas “na memória” destes. Ou seja, o Jesus que caminhava com aqueles discípulos era, na realidade, uma fantasia. Consequentemente, isso faz com que a divindade de Jesus também seja mítica, já que sua ressurreição (que para nós, os que cremos, é uma prova cabal de sua divindade) não foi histórica, mas folclórica. E o que Bultmann propõe para que relatos tão “fantasiosos” e “folclóricos” como esses é que o intérprete das Escrituras proceda a uma “demitização” (ou “desmitologização”) da mensagem do Evangelho (do kerigma), o que pode significar negar totalmente o conteúdo da Revelação, mesmo que alguns relatos nem sejam tão “absurdos” e “folclóricos” assim.

Prefiro ficar com a simplicidade do meu sobrinho a ceder às sugestões de Bultmann e seus confrades liberais. E não se trata de nenhum tipo de “nepotismo teológico” de minha parte, claro que não. O que o pequeno Leo falou apenas está de acordo com o ensino das Escrituras, no qual creio ser infalível, inerrante e inspirado. “Nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” – é o vaticínio de Pedro quanto à infalibilidade e inspiração da Bíblia (2Pe 1.20-21). Pedro diz que os santos profetas não falaram aquilo que eles “achavam” que ia acontecer, e sim aquilo que Deus lhes mandara falar e que Ele mesmo cumpriria. Este mesmo Pedro, quando discursou em Jerusalém por ocasião da descida do Espírito Santo sobre a igreja no dia de Pentecostes (At 2), aplicou o Salmo 16, especificamente os versículos de 8 a 10, a Jesus: “Porque não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção” – referindo-se à ressurreição de Cristo como um fato histórico, o que atesta tanto a infalibilidade das Escrituras quanto a divindade do Filho de Deus. Se isso é mero mito, como querem os liberais, então, de acordo com o apóstolo Paulo “é vã a nossa pregação, e vã, a nossa fé” (1Co 15.14).

O teólogo presbiteriano Grescham Machen já dizia que “o liberalismo teológico não é cristianismo, mas outra religião”. G. K. Chesterton foi mais além (apesar de não estar se referindo diretamente aos liberais) quando disse que “quando as pessoas deixam de crer no verdadeiro Deus da Bíblia, isso não significa que elas deixaram de crer em algo, mas que elas agora creem em tudo ao mesmo tempo”[3]. H. Richard Niebuhr também deixou seu comentário (caricaturizado) sobre a perspectiva liberal: “um Deus sem ira levou homens sem pecado para um reino sem julgamento pelas ministrações de um Cristo sem uma cruz”[4]. Tudo isso só reforça ainda mais o parecer simples, mas extremamente profundo, do meu querido sobrinho: a Bíblia é a Palavra de Deus; Jesus é Deus! Simples assim.

Soli Deo Gloria!

(*) Isso não quer dizer que eu esteja aderindo ao Monarquianismo Modalista (séc. IV), que não faz distinção entre as Pessoas da Trindade (aquelas coisas do tipo: “o Pai foi para a cruz”, Unitarismo, etc).  Só estou ressaltando a divindade de Cristo, nada mais. Seria exigir demais de uma criança de apenas três anos que ela distingua tão bem algo que nem mesmo os grandes teólogos da história conseguiram fazer – desvendar o inesvendável mistério da Trindade.


[1] Bultmann, Rudolf K. Jesus and the Word (1934). Citado por Augustus Nicodemus Lopes em A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo, 2007. Editora Cultura Cristã. Pág. 208.

[2] Idem. Pág. 208, 209.

[3] Citado por Michael Horton em A Face de Deus – os perigos e as delícias da intimidade espiritual. São Paulo, 1999. Editora Cultura Cristã. Pág. XV.

[4] Idem. Pág. XVI.

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sexta-feira, 19 de março de 2010

Carta a Ricardo: Sobre o deus dos recados (“scraps”)

Caro Ricardo [*],

Tenho recebido vários recados (scraps) seus no Orkut. Pra ser sincero, não leio todos. Não por falta de consideração a você, que tenho em grande estima, e sim por falta de tempo mesmo, ainda mais agora que estou sem internet em casa. Mas o motivo pelo qual estou te enviando a presente carta, quer dizer, e-mail, é para manifestar a minha insatisfação com alguns recados do tipo “evangelístico” que tenho recebido ultimamente. Como os tais possuem mais ou menos o mesmo conteúdo, vou citar apenas um. Ei-lo:

Oi, preciso de um favor!!!!

Bom dia e desculpe te incomodar é que é muito urgente. Tenho um amigo que veio de muito longe e precisa ficar em algum lugar. Sendo assim, indiquei sua casa. Te peço que o receba e o ame. O nome dele é Jesus Cristo.

Agora diga bem baixo: Pode entrar Senhor, eu preciso de Ti, limpa meu coração com Teu sangue e abençoe a minha família.

Se acredita em Deus envia esta mensagem a 20 pessoas, se rejeitar lembre do que Jesus disse: “SE ME NEGAS ENTRE OS HOMENS,TE NEGAREI DIANTE DO PAI”.

Mesmo sem saber se o texto é de sua autoria (pois minha esposa já recebeu esse recado também, e não foi você quem enviou), somente o fato de você repassá-lo a outras pessoas revela que, no fundo, no fundo, abraças a teologia contida nesse scrap. Pra você não dizer que estou sendo radical e “chato” (cansei de ouvir você me chamar disso – rsrsrs!) demais, gostaria que você considerasse minhas razões.

Eu sei que Jesus certa feita disse que “o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8.20).  Todavia, este versículo não justifica nem apoia coisas do tipo “tenho um amigo que veio de muito longe e precisa ficar em algum lugar. Sendo assim, indiquei sua casa. Te peço que o receba e o ame. O nome dele é Jesus Cristo”. É bom que observemos, Ricardo, que no contexto em que Jesus falou que não tinha onde reclinar a cabeça ele estava, na realidade, pondo à prova aqueles que queriam segui-lo. O versículo 18 do aludido capítulo de Mateus diz que Jesus percebeu que havia “muita gente” ao seu redor. Foi quando um escriba (sugestivo isso, não?) aproximou-se dele e lhe falou: “Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores” (v. 19). Foi aí que Jesus, que sonda e conhece as reais intenções do coração, respondeu-lhe: “as raposas tem seus covis, e as aves dos céus, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (v. 20 – itálico meu). Isso significa que Jesus sabia que aquele escriba que pretendia segui-lo na realidade não estava nem um pouco disposto a negar-se a si mesmo. Como se percebe, esse texto (se é que você estava pensando nele de fato) não advoga esse tipo de teologia contida no seu recado, Ricardo! Além do mais, o modo como você coloca as sentenças transforma Jesus num pobre coitado que fica mendigando o favor dos homens para repousar em algum coração que queira recebê-lo. Esse tipo de apelo não receberia apoio nem mesmo de alguns arminianos mais fervorosos que conheço.

E tem mais. Essa coisa de dizer bem baixinho para o Senhor entrar no meu coração combina muito bem com o espírito poético-meloso da pós-modernidade, bem como com as práticas finneyanas (semi-pelagianas pragmáticas) de evangelismo, mas não com as Escrituras. Até hoje, depois de uma intensa e cansativa busca, não consegui encontrar em lugar nenhum da Bíblia qualquer texto que apoie isso. E se você estiver pensando em Apocalipse 3.20, onde Jesus diz: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”, pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Jesus está falando de arrependimento, o que é bem diferente dessa coisa de dizer “entra no meu coração”. Geralmente, as pessoas pedem para Jesus entrar nos seus corações quando não estão dispostas a se arrepender dos seus maus caminhos. “Entra no meu coração, Senhor”… bom, sim, mas e daí? Onde está o arrependimento, a regeneração? E o pior de tudo, Ricardo, é que tem tanta gente por aí pensando que é salva somente porque repetiu uma oração do tipo “entra no meu coração, Senhor”! Será que Jesus “entraria” num coração que não se arrependeu genuinamente, num coração que não foi regenerado pelo Espírito? Será que Jesus se deixaria levar por um pedido tão inócuo como esse?

E ainda tem mais, Ricardo. É justamente pelo fato de eu acreditar em Deus (quero dizer, no Deus da Bíblia) que eu não repassarei esta mensagem a 20, 50 ou a “x” pessoas. Prefiro falar-lhes nos termos da Palavra, e não de scraps sem conteúdo. E penso que com isso eu não esteja negando a Jesus. Lembre-se: scrap (do inglês) significa “pedaço”; “recorte”; “fragmento”. Também pode significar “refugo”; “sobras”; “sucata”. E é exatamente isso que esse tipo de recado é, Ricardo: apenas um pedaço, um recorte de evangelho, não sua totalidade. Isso quando não se torna uma verdadeira sucata; sobras de teologia barata. Lembro-te de que quando o apóstolo Paulo se despedia dos presbíteros de Éfeso ele lhes disse que não deixou de anunciar-lhes “todo o desígnio de Deus” (At 20.27). Imagine, Ricardo, se Paulo aderiria à moda dos scraps para instruir uma pessoa nos retos caminhos do Senhor? Penso que jamais.

Perdoe-me o tom não muito amistoso, caro amigo (que paradoxo! rsrsrs!), mas meu alvo não é a sua pessoa, e sim a teologia que seu recado carrega. Insisto em dizer que esse tipo de coisa, apesar de bem intencionada, não está respaldada pelas Escrituras. Também quero te pedir um favor: não me envie mais mensagens desse tipo, pois não terei o mínimo de consideração por elas (ah! se eu pudesse bloquear o recebimento de certos tipos de recados…). Não duvide que eu deletarei todas imediatamente assim que vê-las. Em vez disso, pergunte-me como é que vão as coisas por aqui em Santarém-PA. Aí sim, poderemos manter um contato, digamos, menos “beligerante” (rsrs!) e mais amistoso.

Um grande abraço!

Leonardo.

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[*] Ricardo é um amigo fictício, mas as circunstâncias são reais.

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quarta-feira, 10 de março de 2010

Um eufemismo para Deus

Eufemismo é uma figura de linguagem que usamos quando queremos amenizar as coisas. Por exemplo, quando se quer dizer que fulano de tal morreu, diz-se que ele “passou desta para melhor” (mesmo que o fulano não tenha crido em Cristo para a remissão dos seus pecados). Quando um jogador de futebol é afastado do grupo por andar mal das pernas, geralmente o técnico justifica sua decisão com a “insuficiência técnica” do atleta (o que, traduzindo, quer dizer: “ou melhora ou vai ficar aí esquentando banco”). Quando o patrão quer dizer ao funcionário que este errou feio, para não endossar mais ainda aquela imagem de que todo patrão é carrasco, ele diz que o funcionário “deixou muito a desejar” (essa tática já tá tão desgastada que os empregados já encaram isso como um eufemismo para o temido aviso prévio). Um caso curioso é o da minha mãe. Ela não gosta de pronunciar a palavra “câncer”, pois, segundo ela, uma doença tão ruim como esta não é bom que a pronunciemos. Em vez disso, ela diz simplesmente que a pessoa está com aquela “doença ruim”, que às vezes ela acaba abreviando para “CA” (morro de rir com a minha mãe!).

A moda da linguagem eufêmica pegou entre as pessoas  que costumam conversar sobre Deus (que não são necessariamente teólogos, clérigos, filósofos e afins), inclusive entre muitos cristãos professos, que adoram fazer uso desse artifício nos debates mais acalorados. Quando isso acontece, eles geralmente fogem para bem longe do Deus revelado nas Escrituras, e procuram uma outra forma de descrevê-lO e encará-lO, o que geralmente fazem diminuindo-O (quando não esvaziando-O) de seus atributos. Isso equivale a dizer, sem eufemismos, que um outro deus totalmente diferente do Deus de Abraão, Isaque e Jacó é apresentado; “um deus menor que Deus”, como diria meu amigo Roberto Vargas Jr.

Uma das situações mais propícias para se eufemizar a Deus é quando algo de muito ruim acontece. Por exemplo, diante das tragédias que tem devastado vários países ao redor do mundo, muitos cristãos logo se apressam em isentar Deus da culpa, procurando de todas as formas uma linguagem que torne Deus mais palatável ao homem pós-moderno. Essa seria uma atitude bastante louvável se tivesse como referencial o próprio Deus, mas, como tem se tornado evidente, não é isso que acontece. Parece que muitos que dizem crer nas Escrituras como sendo a Palavra infalível de um Deus infalível se envergonham diante da possibilidade de alguém atribuir crueldade a um Deus que sempre foi tido como sendo o Todo-Amoroso. Para os tais, seria trágico demais furtar das pessoas toda aquela noção que elas herdaram de Deus como um pai sempre disposto a perdoar, de braços abertos. Isso naturalmente estimula os pseudo-apologistas (ainda que sinceros, não passam de falsos)  a fazerem as suas pseudo-apologias da fé (fé?) cristã (cristã?), utilizando-se do recurso leve e agradável da linguagem branda, aquela que não repele nem assusta, e que visa a trazer Deus para mais perto, bem para perto, quase que mortalizando-O (esse “quase” foi eufêmico demais).

O que é pior nisso tudo, e o que as pessoas mais custam a aceitar, é que a eufemização de Deus acaba por negá-lO. Na realidade, ela acaba se transformando no próprio capuz da descrença, uma forma disfarçada de dizer que o Deus dos antigos não é mais bem-vindo. Certas designações bíblicas para Deus, como Todo-Poderoso, Soberano, Altíssimo e etc., não se encaixam mais nos parâmetros de degustabilidade adotados pela cristandade light contemporânea. Negando o Deus “tradicional” dos pobres e antiquados ortodoxos, os neo-teístas se tornam os novos herois da nova “fé”, exatamente porque enchem de riso a boca daqueles que esperam pelas “novas boas-novas” (aquele outro evangelho ao qual Paulo se referiu em Gálatas 1.9). 

Um grupo que bem representa o perfil que acabo de descrever é o pessoal que propaga o Teísmo Aberto. Em minha opinião, eles são os maiores especialistas na arte de se esconder debaixo da carapuça eufêmica da incredulidade (tipo A Cabana, sabe?). Ao atribuirem as catástrofes à mera casualidade, por exemplo, eles estão simplesmente negando a Deus como o Supremo Criador, Provedor e Senhor Absoluto de todas as coisas. Em outras palavras, eles estão negando o Deus que as Escrituras apresentam. Sua influência tem sido tão forte no linguajar gospel contemporâneo que dificilmente as pessoas conseguem pensar em Deus de outra forma, ou seja, da forma bíblica. Infelizmente, muitos são aqueles que estão dando as boas-vindas a esse tipo de ensino, considerando-o como digno de ser tolerado dentro dos limites da diversidade cristã. Até mesmo alguns cristãos conservadores tem procurado evitar o assunto, relegando-o à esfera das “questões indiferentes”, justamente para não serem tachados de fundamentalistas no meio do arraial.

Sem eufemismos agora (mas com algumas ironias aqui e acolá), gostaria de dizer que o evangelho não precisa ser eufemizado para se tornar mais eficaz, e nem Deus precisa ter seus atributos mais abrandados para que afirmemos o seu amor incondicional por nós, pecadores. Não é uma linguagem melíflua que tornará Deus mais bonzinho. Os atributos de Deus continuam intocáveis, mesmo com todo o malabarismo teológico empreendido por certas pessoas. A pena que estas sofrerão, e disso tenho certeza, não será nada eufêmica. Mas se eu fosse dar um eufemismo para Deus, bem… Prefiro deixar como está.

Soli Deo Gloria!!!

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quarta-feira, 3 de março de 2010

Notificação de ausência

Não. Eu não quero falar sobre a minha ausência da blogosfera. Sobre isto, basta dizer que ando meio sem tempo (e sem internet em casa). Ponto. Não é a minha ausência que eu quero tornar notória hoje.

O que eu gostaria de notificar aqui é a ausência de evangelho nas pregações contemporâneas. Sei que falar sobre isso é chover no molhado, mas quero falar mesmo assim. Em todos os lugares a história se repete: as igrejas estão superlotadas de gente interessada num deus que caiba nos seus bolsos (aquela velha divindade pocket à qual já me referi). As pessoas estão simplesmente cansadas do Deus Soberano revelado nas Escrituras Sagradas. O tempo destinado à pregação (se é que assim podemos chamá-la) é substituído por um tempo destinado ao entretenimento, onde todo mundo tem a oportunidade de interagir, rir, pular, gritar, cantar, dançar etc., saindo do culto (se é que podemos assim chamá-lo) com uma enganosa sensação de bem-estar.

Onde a cruz não é anunciada, não há pregação, e por conseguinte, não há evangelho. Urge que notifiquemos àqueles que se dizem pregadores a ausência de evangelho nas suas mensagens. Do contrário, tanto a vontade de coçar quanto a coceira nos ouvidos das massas somente aumentarão (cf. 2Tm 4).

Soli Deo Glória!

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