sexta-feira, 15 de abril de 2016

Política não é o evangelho

Em "O Príncipe Caspian", quarto livro das Crônicas de Nárnia, há uma passagem que creio ser digna de reflexão para nós, cristãos, neste momento crucial que se aproxima: o domingo do impeachment.

Havia muito que "Nárnia era um país triste [mas o brasileiro é um povo alegre, dizem], com impostos excessivamente pesados [temos uma das cargas tributárias mais altas do mundo], leis severas [menos para os bandidos, claro] e um rei muito cruel [no nosso caso, uma louca, mesmo]". Miraz, tio de Caspian, havia usurpado o trono do seu sobrinho. Mas agora, graças à vinda dos Pavensie (Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia), Caspian estava decidido a tomá-lo de volta.

Na caverna mágica do centro do Monte, Caspian reuniu, então, um "Conselho de Guerra" composto por Cornelius (não o Van Til, mas o texugo), Nikabrik e Trumpkin. No centro da caverna estava a Mesa de Pedra onde Aslam havia sido sacrificado — digo, onde voluntariamente se sacrificou. Porém, "o Conselho não se reunira à volta da Mesa, nem estava fazendo uso desta — o seu caráter sagrado tornava-a imprópria para fins vulgares".

Muito pior que qualquer gestão de esquerda, a nossa maior tragédia como cristãos será substituir a Cruz pelos ídolos políticos, depositando a nossa esperança nos homens em vez de em Deus (Pv 29.26). A ala “progressista” do cristianismo já fez isso em sua subserviência ao deus-Estado, com direito a manifesto contra aquilo que estão chamando de “golpe contra a democracia”. Mas engana-se quem pensa que a ala conservadora — especialmente uma que se diz a "Nova" alguma coisa — está muito longe de curvar-se a algum outro tipo de deus. Ela o faz quando deixa de crer que “a justiça vem do Senhor” e passa a confiar, quase que cegamente, em qualquer um que se pretenda o novo messias político do país (um proeminente pensador aí já falou que o Brasil só voltará a ser feliz de novo quando se ver livre do PT, como se tudo fosse uma questão política. Coitado).

É claro que não há qualquer discurso entreguista aqui. A nossa parte precisa ser feita. É o próprio Rei Pedro quem diz mais tarde que "não sabemos quando Aslam intervirá; será quando ele achar melhor. Entretanto, sem dúvida, o seu desejo é que façamos antes o que pudermos". Só não podemos seguir a sugestão de Nikabrik e pedir ajuda à Feiticeira Branca.

Por último, é bom lembrar que “Aslam não é um leão domesticado”: ele é quem “remove reis e estabelece reis” (Dn 2.21) na medida e momento em que lhe aprouver. Que o PT cairá eu não tenho a menor dúvida – embora não saiba com cem por cento de certeza se será já, ainda que ansiando por isso —, mas descansemos em Deus e não percamos de vista que a nossa verdadeira Pátria é de outra ordem.

Política não é o evangelho.

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