sábado, 20 de outubro de 2012

Conversando com Calvino sobre governo feminino

"Não permito, porém, que a mulher ensine" (1 Tm 2.12).

E quanto ao fato de as mulheres instruírem seus filhos, Calvino?

- Paulo não está falando das mulheres em seu dever de instruir sua família; está apenas excluindo-as do ofício do sacro magistério, o qual Deus confiou exclusivamente aos homens.

Mas e Débora, Calvino? Ela foi juíza em Israel (Jz 4.4)...

- Se por acaso alguém desafiar esta posição, citando o caso de Débora e outras mulheres sobre quem lemos que Deus, em determinado tempo, as designou para governar o povo, a resposta óbvia é que os atos extraordinários de Deus não anulam as regras ordinárias, às quais ele quer que nos sujeitemos. Por conseguinte, se em determinado tempo as mulheres exerceram o ofício de profetisas e mestras, e foram levadas a agir assim pelo Espírito de Deus, Aquele que está acima da lei pode proceder assim. Sendo, porém, um caso extraordinário, não se conflita com a norma constante e costumeira.

O que dizer, então, das atuais tentativas de legitimar o governo feminino nas igrejas?

- Todos os homens sábios sempre rejeitaram o governo feminino como sendo uma monstruosidade contrária à ordem natural. E assim, para uma mulher usurpar o direito de ensinar seria o mesmo que confundir o céu e a terra.

(Baseado no comentário de Calvino às Cartas Pastorais. Editora Fiel, 2009. p. 70, 71).

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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Breve comentário a Lucas 12.16-21

"E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância. 17 E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? 18 E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí- los- ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. 19 Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala- te. 20 Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? 21 Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus" (Lucas 12.16-21. ARA).

Acredito que, ao denunciar a avareza do "louco" da parábola, Jesus tinha em mente leis como a que encontramos em Levítico 19.9,10: "Quando também segares a messe da tua terra, o canto do teu campo não segarás totalmente, nem as espigas caídas colherás da tua messe. 10 Não rebuscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o SENHOR, vosso Deus". 

Paulo reforça esse entendimento em 1 Timóteo 6.17-19: "Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; 18 que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; 19 que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida".

Além de demonstrar falta de preocupação e amor para com o próximo, o avarento da parábola (bem como todo avarento) não confia na Providência divina. Ele está como o povo no deserto, guardando o maná para o dia seguinte (Cf. Êxodo 16.19-30). Depositam sua esperança em coisas perecíveis, esquecendo-se de que "nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt 4.4; Dt 8.3).
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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O conceito de fé em 2 Coríntíos 5.7 - um brevíssimo comentário

Visto que andamos por fé, e não pelo que vemos (1 Co 5.7 - ARA).
Geralmente as pessoas usam esse texto para combater o materialismo (aquele do tipo “Tomé”, digamos). Mas penso que não é exatamente esse o ponto do apóstolo nessa passagem. Penso que ele pode estar  colocando “fé” aqui como algo provisório, visto que na eternidade não precisaremos mais dela. Assim sendo, “andamos por fé e não pelo que vemos” significaria, então, algo como “andamos por fé porque é dela que precisamos agora para ver aquilo que ainda não vemos (ou, o que vemos como por espelho, obscuramente). Mas quando chegar o tempo de vermos face a face [cf. 1 Co 13.10-13], não precisaremos mais da fé, visto que aquilo para o que ela apontava se nos tornou em realidade concreta”
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terça-feira, 17 de julho de 2012

8 razões pelas quais precisamos da doutrina da ira de Deus


Por Kevin DeYoung*

Se os pregadores do passado em alguns momentos sofreram de uma fascinação doentia pelo inferno, os ministros de hoje, incluindo não poucos líderes emergentes, são culpados de uma ambivalência indevida sobre o assunto. [...] É certo que não existe espaço para leviandade no que se refere à ira de Deus, mas será que não há lugar para uma advertência apaixonada e viva? Não é bíblico deixar para trás o agnosticismo em relação ao inferno e implorar às pessoas em favor de Cristo, dizendo “reconciliem-se com Deus” (2Co 5:20)? Será que nosso evangelismo se degenera, nossa pregação carece de autoridade e nossas congregações perdem foco porque não temos a doutrina do inferno bem clara diante de nós para colocar nossa face como seixo na direção de Jerusalém?

Precisamos da doutrina da punição eterna. Por repetidas vezes no Novo Testamento descobrimos que entender a justiça divina é essencial para nossa santificação. Crer no julgamento de Deus de fato nos ajuda a ser mais semelhantes a Jesus. Em resumo, precisamos da doutrina da ira de Deus.

Primeiro, precisamos da ira de Deus para nos mantermos honestos em relação ao evangelismo. Paulo discutiu com Félix sobre justiça, domínio próprio e juízo vindouro (At 24:25). Precisamos fazer o mesmo. Sem a doutrina do inferno, nossa tendência é nos envolvermos em todo tipo de coisas importantes que honram a Deus, mas negligenciarmos aquilo que importa para toda a eternidade, que é insistir com os pecadores a que se reconciliem com Deus.

Segundo, precisamos da ira de Deus para perdoar nossos inimigos. A razão de podermos abrir mão de pagar o mal com o mal é que confiamos na promessa do Senhor, segundo a qual ele retribuirá os ímpios. A lógica de Paulo é sadia. “Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: ‘Minha é a vingança; eu retribuirei’” (Rm 12:19). A única maneira de deixar para trás nossas feridas mais profundas e as traições que sofremos é descansar seguros de que todo pecado contra nós foi pago na cruz ou será punido no inferno. Não precisamos buscar justiça com as próprias mãos, pois Deus será nosso justo juiz.

Terceiro, precisamos da ira de Deus para podermos arriscar nossa vida em favor de Jesus. A devoção radical necessária para sofrer pela palavra de Deus e o testemunho de Jesus vem, em parte, da segurança que temos de que Deus nos vindicará no final. É por isso que os mártires embaixo do trono clamarão: “Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, esperarás para julgar os habitantes da terra e vingar o nosso sangue?” (Ap 6:10). Eles pagaram o preço derradeiro por sua fé, mas seus clamores manchados de sangue serão respondidos um dia. Sua inocência será estabelecida quando Deus finalmente julgar os que os perseguiram.

Quarto, precisamos da ira de Deus para viver uma vida santa. Paulo nos adverte de que Deus não pode ser zombado. Colheremos aquilo que plantarmos. Somos levados a viver uma vida de pureza e boas obras em função da recompensa prometida pela obediência e a maldição prometida pela desobediência. Se vivermos para agradar à carne, colheremos de Deus a destruição. Mas, se vivermos para agradar ao Espírito, colheremos a vida eterna (Gl 6:6-7). Às vezes os ministros hesitam diante da ideia de motivar pessoas com a ameaça da punição eterna. Mas não foi essa a abordagem de Jesus quando ele disse “não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno” (Mt 10:28)? Às vezes precisamos literalmente arrancar o inferno das pessoas por meio do medo.

Quinto, precisamos da ira de Deus para entender o significado da misericórdia. Sem a ira divina, a misericórdia divina não tem sentido. Somente quando sabemos que éramos merecedores da ira (Ef 2:3), que já estávamos condenados (Jo 3:18) e que enfrentaríamos o inferno como inimigos de Deus, não fosse a misericórdia imerecida (Rm 5:10), é que podemos cantar de todo o coração “preciosa a graça de Jesus, que um dia me salvou”.

Sexto, precisamos da ira de Deus para entender como o céu será maravilhoso. Jonathan Edwards é famoso (ou mal-afamado) por seu sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado”. Ele ainda é lido nas aulas de literatura americana, normalmente como uma caricatura do espírito puritano da Nova Inglaterra colonial. Mas poucas pessoas percebem que Edwards também pregou sermões como “O céu é um mundo de amor”. Diferentemente da maioria de nós, Edwards via em cores vívidas o terror do inferno e a beleza do céu. Não podemos ter um quadro claro de um sem o outro. É por isso que a descrição da Nova Jerusalém celestial também contém uma advertência aos covardes, aos incrédulos, aos depravados, aos assassinos, aos que cometem imoralidade sexual, aos que praticam feitiçaria, aos idólatras e aos mentirosos, cujo lugar “será no lago de fogo que arde com enxofre” (Ap 21:8). É improvável que desejemos nossa salvação final sem saber do que somos salvos.

Sétimo, precisamos da ira de Deus para sermos motivados a cuidar de nossos irmãos pobres. Todos nós conhecemos a afirmação de que os cristãos estão de tal modo voltados para o céu que não prestam para nada na terra. A ideia é que, se tudo o que pensarmos for apenas céu e inferno, terminaremos ignorando ministérios de compaixão e justiça social. Mas que melhor impulso para a justiça social do que a sóbria advertência de Jesus de que, se deixarmos de cuidar do menor de nossos irmãos, iremos para a punição eterna? (Mt 25:31-46)? A ira de Deus é um motivador para que mostremos compaixão aos outros, pois, sem amor, como diz João, não temos a vida eterna e, se não compartilharmos nossos bens materiais com os que passam necessidades, não temos amor (1Jo 3:17).

Oitavo, precisamos da ira de Deus para nos prepararmos para a volta do Senhor. Devemos manter as lâmpadas cheias, os pavios aparados, as casas limpas, a vinha cuidada, os trabalhadores ocupados e os talentos investidos a fim de que não sejamos pegos despreparados no dia do acerto de contas. Somente quando crermos plenamente na ira iminente de Deus e tremermos diante da ideia da punição eterna é que ficaremos despertos, alertas e preparados para que Jesus venha outra vez e julgue os vivos e os mortos.

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*Trecho extraído do capítulo 9 do excelente livro Não quero um pastor bacana - e outras razões para não aderir à igreja emergente, de Kevin DeYoung e Ted Kluck (São Paulo: Mundo Cristão, 2011).

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terça-feira, 10 de julho de 2012

Três proposições de Jesus


Por Kevin DeYoung*

Proposição é simplesmente uma declaração que pode ser tanto falsa como verdadeira. “As luzes estão acesas.” “Meu nome é Kevin.” “Deus é amor.” Essas são declarações que podem tanto afirmar como negar. É a definição de uma proposição. A Bíblia é certamente mais do que proposições; ela tem mandamentos e perguntas também. Mas a imensa maioria dos textos da Bíblia — sejam leis, cartas, poemas, sejam narrativas — é composta de proposições. Algumas são formulações doutrinárias (“Não há nenhum justo”), e outras são unidades de uma história maior (“em seguida pegou seu cajado, escolheu no riacho cinco pedras lisas”). Em praticamente todas as páginas das Escrituras lemos sentenças proposicionais. [...] Uma declaração que rejeita uma proposição é, em si mesma, uma proposição, assim como uma declaração feita contra declarações de fé é um tipo de declaração de fé.

[...]

Três proposições de Jesus

A Bíblia não impõe tal distinção entre fé no Jesus revelado na Bíblia e confiança nas declarações proposicionais reveladas sobre ele. Considere alguns exemplos do evangelho de João. Os três vêm dos lábios de Jesus.

“Eu lhes disse que vocês morrerão em seus pecados. Se vocês não crerem que Eu Sou, de fato morrerão em seus pecados” (Jo 8:24).

Para que seja genuína e salvadora, a fé pessoal em Cristo deve ter conteúdo proposicional. Devemos crer que Jesus é o “Eu Sou”. Devemos crer que ele é do alto (8:23), a luz do mundo (8:12) e que é enviado do Pai (8:16). Podemos achar que temos um relacionamento maravilhoso com Jesus e podemos até mesmo amá-lo, mas, a não ser que creiamos que ele é o Cristo, o Filho de Deus, não teremos vida em seu nome (20:31).

“Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (Jo 15:7).

As duas coisas são colocadas lado a lado — Jesus permanecendo em nós, e suas palavras permanecendo em nós. Elas são dois lados da mesma moeda. Não podemos ter um relacionamento de permanência com Jesus, a não ser que suas palavras também permaneçam em nós. E se permitirmos que suas palavras — mandamentos, sentenças e proposições — permaneçam em nós, ele também permanecerá.

“Agora vou para ti, mas digo estas coisas enquanto ainda estou no mundo, para que eles tenham a plenitude da minha alegria” (Jo 17:13).

Nossa plenitude de alegria depende de crer, abraçar e apreciar as frases que Jesus pronunciou. As frases não nos salvam. A vida, a morte e a ressurreição de Jesus é que nos salvam. Mas sem proposições correspondentes à verdade como “esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3), “eu revelei teu nome àqueles que do mundo me deste” (v. 6), “eu rogo por eles” (v. 9) e “tudo o que tenho é teu, e tudo o que tens é meu. E eu tenho sido glorificado por meio deles” (v. 10) — sem essas preciosas declarações teológicas, comunicadas e entendidas por meio de expressões verbais, não teríamos a plenitude da alegria de Jesus.

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Trecho extraído do capítulo 3 do excelente livro Não quero um pastor bacana - e outras razões para não aderir à igreja emergente (São Paulo: Mundo Cristão, 2011), de Kevin DeYoung e Ted Kluck.

 

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terça-feira, 12 de junho de 2012

A pornografia e a integridade do casamento cristão

Por Albert Mohler Jr.

A cosmovisão cristã tem de direcionar à instituição do casamento todas as considerações sobre a sexualidade. O casamento é o ambiente da atividade sexual. É apresentado nas Escrituras como o ambiente designado por Deus para a revelação da sua glória na terra, quando um homem e uma mulher se unem no relacionamento de “uma só carne”, na aliança do casamento. Entendido e ordenado da maneira correta, o casamento é uma figura da própria aliança da fidelidade de Deus. O casamento deve manifestar a glória de Deus, revelar os seus dons às suas criaturas e proteger os seres humanos do desastre inevitável que ocorre quando as paixões sexuais são divorciadas de seu devido lugar.

A marginalização do casamento e a antipatia pública com a qual a maior parte da elite cultural aborda o assunto do casamento produzem um contexto em que os cristãos comprometidos com uma ética do matrimônio parecem terrivelmente fora de harmonia com a cultura. Enquanto a sociedade vê o casamento como um contrato particular que pode ser feito e desfeito à vontade, os cristãos têm de ver o casamento como uma aliança inviolável feita diante de Deus, uma aliança que estabelece realidades temporais e eternas.

Os cristãos não devem ficar embaraçados quando falam sobre sexo e sexualidade. Uma hesitação ou embaraço impróprios em tratar desses assuntos é uma forma de desrespeito à criação de Deus. Tudo que Deus fez é bom, e toda coisa boa feita por Deus tem um propósito intencional que, em última análise, revela a sua glória. Quando os cristãos conservadores reagem aos assuntos sexuais com ambivalência e embaraço, difamamos a bondade de Deus e ocultamos sua glória, que deve ser revelada no uso correto dos dons da criação.

Portanto, nossa primeira responsabilidade é mostrar a todas as pessoas o uso correto das boas dádivas de Deus e a legitimidade do sexo no casamento como aspectos vitais da intenção de Deus para o casamento desde o princípio. Muitos indivíduos – especialmente os rapazes – nutrem uma falsa expectativa quanto ao que o sexo representa no âmbito do relacionamento matrimonial. Visto que o impulso sexual masculino é amplamente dirigido ao prazer físico, os homens imaginam freqüentemente que as mulheres são iguais a eles. Embora o prazer físico seja uma parte essencial da experiência feminina do sexo, uma mulher não se focaliza no objetivo único do prazer físico, como acontece com o homem.

Um ponto de vista bíblico entende que Deus demonstra sua glória tanto nas similaridades como nas diferenças que caracterizam homens e mulheres. Criados igualmente à imagem e semelhança de Deus, homens e mulheres foram feitos um para o outro. Os aspectos físicos dos corpos do homem e da mulher exigem a satisfação no outro. O impulso sexual tira o homem e a mulher de si mesmos e os move a um relacionamento de aliança que se consuma na união de “uma só carne” . Por definição, o sexo no casamento não é apenas a realização da satisfação sexual por parte de duas pessoas que compartilham a mesma cama. Antes, é o ato mútuo de se darem que atinge prazeres tanto físicos como espirituais. O aspecto emocional do sexo não pode ser divorciado de sua dimensão física. Embora os homens sejam freqüentemente tentados a esquecer isso, as mulheres possuem meios mais ou menos gentis de tornar isso claro.

Considere o fato de que a mulher tem todo o direito de esperar que seu marido tenha de ganhar o acesso ao leito conjugal. Conforme o apóstolo disse, o marido e a mulher não possuem mais seus próprios corpos, mas agora um pertence ao outro (ver 1Co 7.4). Ao mesmo tempo, Paulo instruiu os maridos a amarem sua mulher como Cristo amou a igreja (ver Ef 5.25). Assim como as mulheres são ordenadas a se submeterem à autoridade de seu marido (v. 22), este é chamado a um padrão de amor mais elevado, semelhante ao de Cristo, e de dedicação para com sua mulher. Por isso, quando digo que um marido tem de ganhar o acesso ao leito conjugal, estou dizendo que um marido deve à sua mulher a confi ança, a afeição e o apoio emocional que a levam a se dar livremente ao marido em um ato de sexo.

A sexualidade é um dom de Deus e foi planejada para tirar-nos de nós mesmos e impelir-nos a buscar um cônjuge. Para os homens, isso significa que o casamento nos chama a deixar nosso interesse egoísta por prazer genital em favor da plenitude do ato sexual no relacionamento conjugal. Expressando em termos mais diretos, creio que Deus tenciona que um homem seja disciplinado, direcionado e estimulado à fi delidade conjugal por meio do fato de que a sua mulher se dará livremente a ele, no ato sexual, quando ele se apresenta como digno da atenção e desejo dela.

Ser específico pode nos ajudar neste ponto. Acredito que a glória de Deus é vista no fato de que um homem casado, fiel à sua esposa, que a ama genuinamente, acordará de manhã motivado pelo desejo e anelo de tornar sua esposa orgulhosa, confiante e segura de sua dedicação a ela. Um esposo que espera realizar o ato sexual com sua esposa terá como alvo de sua vida fazer aquelas coisas que trarão orgulho legítimo ao coração da esposa, se dirigirá a ela com amor como o alicerce de seu relacionamento e se apresentará a ela como um homem que lhe dá orgulho e satisfação.

Considere esses dois quadros. O primeiro é o de um homem que se determina a um compromisso de pureza sexual e vive em integridade sexual com sua esposa. A fim de satisfazer as expectativas legítimas de sua esposa e de maximizar o prazer de ambos no leito conjugal, ele se mostra cuidadoso em viver, conversar, liderar e amar de tal modo que sua esposa acha sua satisfação em dar-se a si mesma em amor. O ato sexual se torna uma culminação de todo o relacionamento, e não um ato físico isolado que é meramente incidental ao amor de um para como o outro. Eles não usam o sexo como um meio de manipulação, nem se focalizam vulgarmente no prazer pessoal egocêntrico; ambos se dão um ao outro em paixão imaculada e irrestrita. Nesse quadro, não há vergonha. Diante de Deus, esse homem pode estar confiante de que está cumprindo suas responsabilidades como marido e homem. Está dirigindo sua sexualidade, seu impulso sexual e seu vigor físico ao relacionamento de “uma só carne” que é o paradigma perfeito da intenção de Deus na criação.

Por contraste, considere outro homem. Ele vive sozinho ou, pelo menos, em um contexto diferente do contexto de casamento puro. Seu impulso sexual direcionado por egoísmo e não por altruísmo se tornou um instrumento de luxúria e auto-satisfação. A pornografi a é a essência de seu interesse e estímulo sexual. Em vez de achar satisfação em uma esposa, ele vê fotos impuras para ser recompensado com estimulo sexual que surge sem responsabilidade, expectativa e necessidade legítima. Expostas diante dele, acham-se uma variedade aparentemente inumerável de mulheres nuas, imagens sexuais de carnalidade explícita e uma abundância de perversões que têm o propósito de seduzir a imaginação e corromper a alma. Esse homem não precisa se preocupar com sua aparência física, sua higiene pessoal ou seu caráter moral aos olhos de uma mulher. Sem essa estrutura e responsabilidade, ele está livre para obter seu prazer sexual, sem levar em conta seu rosto não barbeado, sua indolência, seu mau hálito, o odor de seu corpo ou sua aparência física. Ele não está sob nenhuma exigência de respeito pessoal, e não tem alguém para avaliar a seriedade e a dignidade de seu desejo sexual. Em vez disso, seus olhos vagueiam pelas imagens de rostos sem afeição, contemplando mulheres que não lhe fazem qualquer exigência, não se comunicam com ele e nunca lhe dizem não. Não há troca de respeito, troca de amor e nada mais do que o uso de uma mulher como objeto de sexo para o prazer sexual pervertido e individual desse homem.

Esses dois quadros de sexualidade masculina tencionam incutir propositadamente a lição de que cada homem tem de decidir quem ele será, a quem servirá e a quem amará. Em última análise, a decisão de um homem a respeito da pornografi a é uma decisão a respeito de sua alma, de seu casamento, de sua vida e de seu Deus.

A pornografia é uma difamação da bondade da criação de Deus e uma corrupção desse ótimo dom que Deus outorgou às suas criaturas, motivado por seu amor altruísta. Abusar desse dom significa enfraquecer não somente a instituição do casamento, mas também a própria estrutura da civilização. Escolher a luxúria em lugar do amor é aviltar a humanidade e adorar a falsa divindade [da mitologia grega] Priapus, na mais descarada forma de idolatria moderna.

O uso deliberado da pornografia equivale ao convite voluntário de amantes ilícitos, objetos de sexo e conhecimento proibido ao coração, mente e alma do homem. O dano no coração do homem é incalculável, e o custo da infelicidade humana só será evidente no Dia do Juízo. Desde o momento em que cada homem atinge a puberdade até o dia em que morre, ele luta contra a luxúria. Sigamos o exemplo e a ordem bíblica de fazermos uma aliança com os olhos para não contemplarmos o pecado. Nesta sociedade, somos chamados a ser responsáveis uns pelos outros em meio a um mundo que vive como se nunca haverá de ser chamado a prestar contas.

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Capítulo 5 do ótimo livro Desejo e Engano, de R. Albert Mohler Jr., (Editora Fiel, 2009. 133 p.), o qual está disponível para download gratuito no site da editora. Para tal, é necessário cadastrar o email no site.

 

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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Jó e a Esquerda - um pequeno esboço

[16] Se retive o que os pobres desejavam ou fiz desfalecer os olhos da viúva; [17] ou, se sozinho comi o meu bocado, e o órfão dele não participou [18] (Porque desde a minha mocidade cresceu comigo como se eu lhe fora o pai, e desde o ventre da minha mãe fui o guia da viúva.); [19] se a alguém vi perecer por falta de roupa e ao necessitado, por não ter coberta; [20] se os seus lombos não me abençoaram, se ele não se aquentava com a lã dos meus cordeiros; [21] se eu levantei a mão contra o órfão, por me ver apoiado pelos juízes da porta, [22] então, caia a omoplata do meu ombro, e seja arrancado o meu braço da articulação. [23] Porque o castigo de Deus seria para mim um assombro, e eu não poderia enfrentar a sua majestade.

Jó 31.16-23 (Almeida Revista e Atualizada).

Versos 16 a 21: exatamente o que o PT e demais regimes comunistas fazem (especialmente o v. 17);

Verso 22: uma oração que eles estão muito longe de fazer;

Verso 23: o que inevitavelmente os aguarda.

Soli Deo Gloria!

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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Livro: "A Arte Expositiva de João Calvino"

Um breve endosso

Editora Fiel, 2008. 144 p.

De todos os livros que possuo na área de homilética, esse é talvez aquele que eu mais gosto (pelo menos até o presente momento). De forma simples mas profunda e agradabilíssima de se ler, Steve Lawson soube resumir em poucas páginas as principais características da pregação do grande reformador João Calvino. Lawson nos mostra que Calvino não foi apenas o grande "exegeta da Reforma", mas também um grande pregador. Leitura indispensável para aqueles que querem não apenas inteirar-se das características da pregação de Calvino, mas acima de tudo, esmerar-se em ser aquilo que Paulo recomendou a Timóteo - um "obreiro aprovado" (2 Tm 2.15).

Soli Deo Gloria!

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segunda-feira, 5 de março de 2012

Que será dos que nunca ouviram? Uma breve confissão

Esse é um assunto que sempre me incomodou bastante, a saber, o destino eterno daqueles que nunca ouviram falar de Cristo. Deixando de lado se os tais ainda existem hoje (particularmente, penso que haja) e outras questões parecidas, bem como as várias perspectivas sobre o assunto, vou logo resumir a minha posição: todos os eleitos, fatalmente, ouvirão acerca de Cristo por meio da pregação da Sua Palavra. Nem todos os que ouvem são eleitos, obviamente, mas todos os eleitos ouvirão. Ainda que digamos que cabe somente a Deus julgar tais pessoas, não somos autorizados, pelas Escrituras, a pensar que poderá ser salvo quem nunca ouviu de acerca de Cristo, uma vez que "a fé vem pelo ouvir" (Rm 10.17), sendo esta mesma fé um dom de Deus exclusivamente para os Seus eleitos (cf. Tt 1.1). Estes, por sua vez, vem a Cristo pela pregação (cf. 2 Ts 2.13, 14).

Há de se questionar em que consiste essa "pregação". De pronto, rejeito a perspectiva segundo a qual a revelação geral (criação, cultura, moralidade, etc.) é suficiente para a salvação, pois, se assim fosse, a fé em Cristo seria necessária apenas para alguns (sinceramente, não creio na revelação geral nem como meio salvífico extraordinário). Nesse quesito, penso em Cornélio, centurião romano sobre o qual se diz ter sido "piedoso e temente a Deus" (At 10.2), mas que precisou ouvir explicitamente acerca de Cristo por intermédio do apóstolo Pedro para ser salvo (ver todo o capítulo 10 de Atos). Rejeito, também, a noção segundo a qual a pregação pode ser entendida como o exemplo de vida dos cristãos ("conversão pelo exemplo", tão propagada pelos pietistas e místicos medievais), pois nossas vidas não podem ser melhores do que a pregação viva da Palavra de Deus.

Há, ainda, um equívoco a ser corrigido, e este tem a ver com a relação entre Decreto e Providência. Novamente citando o caso de Cornélio (somente para não citar todos os eleitos), não podemos dizer que ele já era salvo antes de ouvir a Palavra. Pelo decreto, sim, ele já constava entre os eleitos, mas não pela Providência, haja visto não ter chegado ainda o tempo da concretização do decreto. E o que é a Providência, senão os meios que Deus usa para alcançar aquilo que Ele decretou? Nesse caso, Cornélio precisou, na História, ouvir a Palavra, sendo regenerado pelo Espírito para que pudesse, então, crer e ser salvo.

Assim sendo, creio ser a pregação o meio providencial responsável por infundir fé no coração do eleito. Só a pregação? Bem, como já falei acima, se há exceções elas não são especificadas pelas Escrituras, pelo que me reservo ao direito de me ater apenas àquilo que nos é afirmado pela Revelação como regra, em vez de especular sobre a exceção. E me valho, aqui, do pertinente comentário de Calvino a Romanos 10.14 (..."e como ouvirão, se não há quem pregue?"). Ele diz que "o que Paulo está descrevendo aqui é somente a palavra pregada, pois este e o modo normal que o Senhor designou para comunicar sua Palavra. E se se argumenta, à luz desse fato, que Deus não pode dar-se a conhecer entre os homens só por meio da pregação, então negaremos que isto era o que o apóstolo pretendia transmitir. Ele estava transferindo somente a ordinária dispensação divina, e não pretendia escrever uma lei à sua graça" (ênfase minha). E me é muito claro, ainda na Escritura, que Deus sempre envia Seus arautos para os lugares em que há eleitos Seus para serem alcançados (cf. At 18.10; 13.48; Jonas e os ninivitas, etc.). Novamente citando o reformador francês (agora em seu comentário a Romanos 10.15 - "e como pregarão se não forem enviados"), "quando alguma nação é agraciada com a pregação do evangelho, tal fato é uma garantia do amor divino".

Por último, não penso que este seja o típico assunto que deva ser relegado apressadamente ao "mistério", como se as provas bíblicas acerca dele fossem insuficientes ou inexistentes. O máximo que posso dizer quanto aos que nunca ouviram é que cada um será julgado de acordo com a resposta que deu à luz que teve, mas não para uma possível absolvição. Para o quê, então? Bem, embora eu tenda a crer aqui em possíveis níveis de sofrimento no inferno (cf. passagens como Mt 11.22, 24; Lc 12.47, 48; 20.17), prefiro não arriscar ir além daquilo sobre o que a Escritura não lança senão faíscas.


Soli Deo Gloria!

 

 

 

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sábado, 3 de março de 2012

Testando o Blogsy

Meu amigo Roberto Vargas já havia falado sobre uma tal "nova ferramenta" que ele estava testando. E essa ferramenta nada mais era do que um editor de blog para o seu iPad, o Blogsy. Pois bem, cá estou, após relutar por um tempo, testando também a tal ferramenta. E, assim como meu amigo Roberto, também espero que ela me renda bons frutos, pois também paguei por ela.

Em tudo isso, Soli Deo Gloria!

 

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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Quantas bicicletas Deus tem?

Já é o segundo domingo consecutivo que estamos estudando sobre a doutrina da predestinação na escola dominical em nossa congregação. E, apesar de se tratar de uma congregação presbiteriana, as dificuldades em torno da doutrina ainda persistem nos corações e mentes de alguns – tanto a dificuldade em entendê-la quanto (principalmente!) em aceitá-la. Conversando sobre o assunto com minha esposa em casa, ela me lembrou de um ex-pastor nosso, o qual gostava de explicar a eleição da seguinte maneira: imagine que eu tenho uma bicicleta, e vejo dois garotos na rua. Resolvo, então, dar minha bicicleta a um deles. Alguém poderia me questionar por que eu dei a um e não ao outro, ao que eu responderia dizendo que a bicicleta é minha, e a dou a quem quiser. Não levei em conta quaisquer méritos ou deméritos nas crianças, simplesmente escolhi uma para ser agraciada. Assim, pois, é com a salvação: Deus a dá a quem Ele quer e ninguém pode reclamar disso, pois é algo que pertence a Ele. Fiz questão de levar a ilustração para a classe, mas com a seguinte pergunta: tudo bem, mas... teria Deus apenas uma bicicleta? Na realidade, levantei a questão como que me colocando no lugar de alguém que não aceita a doutrina da eleição incondicional tal como é explanada pela fé reformada. E, com isso, acabei aguçando ainda mais a polêmica que já estava sendo travada ali, mas com a intenção de dar uma resposta depois, obviamente.

Respostas? Há, se levarmos em conta, dentre outras coisas, a relação suficiência-eficiência. Encontramos um bom exemplo disso nos Cânones de Dort, no capítulo que trata sobre a morte de Cristo e a salvação do homem por meio dela:

Esta morte do Filho de Deus é o único e perfeito sacrifício pelos pecados, de valor e dignidade infinitos, abundantemente suficiente para expiar os pecados do mundo inteiro.

Cânones de Dort, II.3. Ênfase minha.

Ou seja, embora a morte de Cristo seja “abundantemente suficiente para expiar os pecados do mundo inteiro”, ela é eficiente apenas nos eleitos, como o próprio documento diz em seguida:

Pois este foi o soberano conselho, a vontade graciosa e o propósito de Deus o Pai, que a eficácia vivificante e salvífica da preciosíssima morte de seu Filho fosse estendida a todos os eleitos. Daria somente a eles a justificação pela fé e por conseguinte os traria infalivelmente à salvação. Isto quer dizer que foi da vontade de Deus que Cristo por meio do sangue na cruz (pelo qual Ele confirmou a nova aliança) redimisse efetivamente de todos os povos, tribos, línguas e nações, todos aqueles e somente aqueles que foram escolhidos desde a eternidade para serem salvos, e Lhe foram dado pelo Pai.

Idem, II.8. Ênfase minha.

Isto posto, podemos voltar à nossa ilustração da bicicleta: Deus até teria mais para dar, mas resolveu não fazê-lo. E por que não o fez, sendo Ele mesmo bom? Penso ser justamente aí que reside boa parte do problema quando falamos da exclusiva soberania de Deus na salvação do homem. Aliás, a própria pergunta em si já apresenta um grave problema de perspectiva. Já disse algumas vezes que todo e qualquer queixume contra a doutrina da eleição incondicional reside no fato de que o homem se acha bom por natureza e, por conseguinte, merecedor da graça (a “bicicleta”) de Deus. Na realidade, Cristo morreu por mim porque eu merecia ser salvo. É quando o homem passa, então, a confundir a justiça de Deus com a sua própria.

Minha resposta à pergunta por que Deus, mesmo sendo bom não quis Se valer da suficiência da Sua graça para alcançar a todos os que jazem nas trevas é justamente porque a Sua justiça seria ofuscada pelo seu amor, visto que não seria manifesta. Ora, o pecado não poderia passar impune. Se passasse, Deus, que odeia o pecado, deixaria de ser justo e santo. Assim sendo, o amor de Deus não pode ser dissociado do seu corolário, que é a Sua ira, a qual Paulo diz que "se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça" (Rm 1.18). E quando o amor sacrifica a justiça, o que temos não pode ser o amor bíblico e divino, mas um amor defeituoso e totalmente incapaz de redimir aquilo a que se propõe. Poderíamos afirmar, ainda com base nessa passagem paulina, que privar Deus de Sua ira santa é suprimir a verdade (justiça) para que a mentira (injustiça) prevaleça.

Acho que deveríamos pensar duas vezes antes de querermos sobrepor nossos "trapos de imundícia" (Is 64.6) à pureza do Senhor. E antes de reclamar qualquer "bicicleta" a Deus, que déssemos uma atenção especial às palavras do profeta Jeremias: "por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados" (Lm 3.39). Mas isso, quantos querem?

Soli Deo Gloria!

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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O imutável amor de Deus


Esboço de um sermão que preguei ontem à noite na Igreja Presbiteriana do Ibura (Recife-PE). 
***
“Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Malaquias 3.6).

INTRODUÇÃO
Vocês me reputariam por herege caso eu afirmasse que nossos pecados, por piores que sejam, não são capazes de fazer com que Deus diminua o Seu amor por nós, os Seus eleitos? 

EXPOSIÇÃO
A queixa básica do povo parecia ser a de que Deus o havia esquecido, pois os ímpios estavam prosperando, enquanto que Israel, não (2.17; 3.15). Mesmo tendo Deus já declarado o Seu amor exclusivo para com a Casa de Israel, ela desdenhava dele (1.1-5). Para o povo, não havia vantagem nenhuma em um viver piedoso, visto que os ímpios (aparentemente) estavam escapando ao Juízo de Deus (3.14, 15).
- Pós-exílio.

A infidelidade dos sacerdotes 
  1. Profanação do culto (1.6-14): Deus, o pai desonrado e senhor desrespeitado (v. 6). “A mesa do Senhor é desprezível” (v. 7 e 12). O v. 13 é descrito doravante como o roubo nos dízimos e ofertas (3.7).
  2. Negligência da Lei: violação da aliança com Levi (tribo designada para os serviços litúrgicos). 1) negligência no ensino da Lei (v. 7, 8); e 2) parcialidade na aplicação da Lei (2.9). Ver exemplo prático disso em 3.5. Todo esse mau exemplo por parte dos sacerdotes estava fazendo com que muitos tropeçassem (v. 8). Isso estava se refletindo no dia-a-dia do povo, que também estava sendo infiel para com Deus.
A infidelidade do povo
  1. Casamento misto (2.10-12) – uma profanação da aliança (v. 10) e do santuário do Senhor (v. 11). Falar sobre a “Idolatria matrimonial”.
  2. Divórcio massivo (2.13-16). Deus não estava aceitando a oferta do povo por causa da infidelidade conjugal dele (v. 13, 14). As circunstâncias do texto indicam que os homens estavam se divorciando de suas esposas para se casarem com mulheres pagãs. Casamento é aliança, de modo que infidelidade conjugal significa infidelidade da aliança. Deus diz que odeia o divórcio! O casamento é uma instituição tão santa que violá-la, seja por casamento misto ou divórcio, constitui-se em uma quebra da Aliança para com Deus.
Diante de um quadro de infidelidade e rebelião como esse, restaria ainda algum vestígio de amor de Deus para com o Seu povo? Se sim, por meio de quê ele evidenciaria esse amor?

A resposta de Deus: Jesus, o “Anjo da Aliança”

Jesus é identificado como o “Senhor”, como o “Anjo da Aliança” (3.1) e como o “sol da justiça” (4.2) que traria salvação para o povo (cf. Mt 1.21).

Pensando especificamente nesse ato de amor do Pai em nos dar o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados, João irrompe numa contundente declaração: “Deus é amor” (1 Jo 4.8). João 3.16amor de boa vontade (beneplácito), deliberação em fazer o bem (“o mundo” = “aqueles que não têm nada” – Owen); João 14.23amor de aceitação; chamado para desfrutar de comunhão com o Pai. Não há qualquer possibilidade de comunhão em amor com o Pai sem a mediação do Filho.

O imutável amor de Deus (3.6)

“O amor do Pai é constante: aqueles a quem ama ele ama até o fim e sempre da mesma maneira” (Owen). Contudo, o fato de Deus não mudar o Seu amor para conosco não significa que Ele não altere as dispensações da Sua graça. Diante da nossa rebeldia e incredulidade, Ele nos reprova, castiga, esconde de nós a sua face, nos fere. Mas isso não significa que Seu amor por nós é diminuído. Como disse John Owen, “se qualquer tipo de provocação pudesse afastar o amor de Deus para conosco, já não existiria amor há muito tempo”. (Ver também o Salmo 78.32-38).

APLICAÇÃO: O que Deus exige de nós?

1) Receber o Seu amor. “Até que o amor do Pai seja recebido, não temos nenhuma comunhão com ele” (Owen). E como receber esse amor? Pela fé – mas não uma fé imediata, e sim mediada pelo Filho. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, e ninguém vem ao Pai senão for por mim” (Jo 14.6);

2) Corresponder ao Seu amor em amor. “Deus ama para que seja amado. Tudo começa no amor de Deus e termina no nosso amor para com Ele” (Owen). Não devemos nos fiar na graça de Deus e na imutabilidade do Seu amor por nós para vivermos de forma licenciosa e libertina. É bom lembrar que o “Anjo da Aliança” também seria instrumento de justiça (3.2-4; 4.1-3).

Soli Deo Gloria!
Leonardo Bruno Galdino.
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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Os crentes, esses incompreendidos...


Por John Owen

Os santos são as pessoas mais mal-compreendidas do mundo. Se os santos disserem: “Venham ter comunhão conosco” (ver 1 Jo 1.3), não estão os homens prontos a dizer: “Por quê? Quem são vocês? Vocês são um triste bando de pessoas sediciosas e facciosas (ver At 17.6; 28.22). Fiquem sabendo que desprezamos qualquer comunhão com vocês. Quando pretendermos deixar a comunhão com todos os homens honestos e dignos, então iremos até vocês”. No entanto, como os homens estão enganados! A comunhão verdadeira deles [dos crentes] é com o Pai: que os homens pensem o que quiserem sobre isso, os santos têm comunhão íntima, espiiritual revigorante e celestial na mútua comunicação de amor com o próprio Pai. Como são mal compreendidos, declara o apóstolo: “Por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos e, entretando, bem conhecidos; como se estivéssemos morrendo e, contudo, eis que vivemos; como castigados, porém não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Co 2.6-8). Em geral, é assim que são vistos: como pobres, inferiores, pessoas detestáveis e nem um pouco melhores que isso, quando, de fato, são os únicos personagens nobres e grandes no mundo. Pense sobre a companhia que possuem: a do Pai – quem é mais glorioso? A mercadoria que negociam é o amor – o que é mais precioso? Sem dúvida, são as coisas mais excelentes sobre a terra (Sl 16.3).

In: Comunhão com o Deus Trino (Cultura Cristã, 2010, p. 99).
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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Ele nos amou primeiro, não o contrário!


Por John Owen

“Não consigo fazer meu coração ser recíproco ao amor de Deus. Se pudesse ver a minha alma colocada sobre ele, então poderia crer que sua alma se agradou de mim”.


Esse é o curso mais absurdo que  seus pensamentos podem tomar, uma maneira racional de roubar Deus de sua glória. “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas que ele nos amou e enviou seu Filho”, diz o Espírito Santo (1 Jo 4.10-11). Porém, invertemos essa ordem e dizemos: “Nisto consiste o amor: não em que Deus me tenha amado, mas que eu o amei primeiro”. Isso significa roubar a glória que pertence a Deus: ou seja, enquanto nos ama sem uma causa em nós mesmos, tendo em nós toda a razão do mundo em amá-lo, agimos contrariamente e enfatizamos algo em nós que nos faz objeto de seu amor, destacando nossa iniciativa em amar a Deus. De maneira que o amamos antes de conhecermos qualquer característica amável nele, ou seja, quer nos ame quer não. Essa é uma forma carnal que nunca trará glória a Deus, nem paz para a alma. Abandone, então, seus raciocínios; aceite o amor de Deus como um puro ato de fé, e assim abra a sua alma para o Senhor na comunhão de amor.


In: Comunhão com o Deus Trino (Cultura Cristã, 2010, p. 98).


Soli Deo Gloria!
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