terça-feira, 12 de junho de 2012

A pornografia e a integridade do casamento cristão

Por Albert Mohler Jr.

A cosmovisão cristã tem de direcionar à instituição do casamento todas as considerações sobre a sexualidade. O casamento é o ambiente da atividade sexual. É apresentado nas Escrituras como o ambiente designado por Deus para a revelação da sua glória na terra, quando um homem e uma mulher se unem no relacionamento de “uma só carne”, na aliança do casamento. Entendido e ordenado da maneira correta, o casamento é uma figura da própria aliança da fidelidade de Deus. O casamento deve manifestar a glória de Deus, revelar os seus dons às suas criaturas e proteger os seres humanos do desastre inevitável que ocorre quando as paixões sexuais são divorciadas de seu devido lugar.

A marginalização do casamento e a antipatia pública com a qual a maior parte da elite cultural aborda o assunto do casamento produzem um contexto em que os cristãos comprometidos com uma ética do matrimônio parecem terrivelmente fora de harmonia com a cultura. Enquanto a sociedade vê o casamento como um contrato particular que pode ser feito e desfeito à vontade, os cristãos têm de ver o casamento como uma aliança inviolável feita diante de Deus, uma aliança que estabelece realidades temporais e eternas.

Os cristãos não devem ficar embaraçados quando falam sobre sexo e sexualidade. Uma hesitação ou embaraço impróprios em tratar desses assuntos é uma forma de desrespeito à criação de Deus. Tudo que Deus fez é bom, e toda coisa boa feita por Deus tem um propósito intencional que, em última análise, revela a sua glória. Quando os cristãos conservadores reagem aos assuntos sexuais com ambivalência e embaraço, difamamos a bondade de Deus e ocultamos sua glória, que deve ser revelada no uso correto dos dons da criação.

Portanto, nossa primeira responsabilidade é mostrar a todas as pessoas o uso correto das boas dádivas de Deus e a legitimidade do sexo no casamento como aspectos vitais da intenção de Deus para o casamento desde o princípio. Muitos indivíduos – especialmente os rapazes – nutrem uma falsa expectativa quanto ao que o sexo representa no âmbito do relacionamento matrimonial. Visto que o impulso sexual masculino é amplamente dirigido ao prazer físico, os homens imaginam freqüentemente que as mulheres são iguais a eles. Embora o prazer físico seja uma parte essencial da experiência feminina do sexo, uma mulher não se focaliza no objetivo único do prazer físico, como acontece com o homem.

Um ponto de vista bíblico entende que Deus demonstra sua glória tanto nas similaridades como nas diferenças que caracterizam homens e mulheres. Criados igualmente à imagem e semelhança de Deus, homens e mulheres foram feitos um para o outro. Os aspectos físicos dos corpos do homem e da mulher exigem a satisfação no outro. O impulso sexual tira o homem e a mulher de si mesmos e os move a um relacionamento de aliança que se consuma na união de “uma só carne” . Por definição, o sexo no casamento não é apenas a realização da satisfação sexual por parte de duas pessoas que compartilham a mesma cama. Antes, é o ato mútuo de se darem que atinge prazeres tanto físicos como espirituais. O aspecto emocional do sexo não pode ser divorciado de sua dimensão física. Embora os homens sejam freqüentemente tentados a esquecer isso, as mulheres possuem meios mais ou menos gentis de tornar isso claro.

Considere o fato de que a mulher tem todo o direito de esperar que seu marido tenha de ganhar o acesso ao leito conjugal. Conforme o apóstolo disse, o marido e a mulher não possuem mais seus próprios corpos, mas agora um pertence ao outro (ver 1Co 7.4). Ao mesmo tempo, Paulo instruiu os maridos a amarem sua mulher como Cristo amou a igreja (ver Ef 5.25). Assim como as mulheres são ordenadas a se submeterem à autoridade de seu marido (v. 22), este é chamado a um padrão de amor mais elevado, semelhante ao de Cristo, e de dedicação para com sua mulher. Por isso, quando digo que um marido tem de ganhar o acesso ao leito conjugal, estou dizendo que um marido deve à sua mulher a confi ança, a afeição e o apoio emocional que a levam a se dar livremente ao marido em um ato de sexo.

A sexualidade é um dom de Deus e foi planejada para tirar-nos de nós mesmos e impelir-nos a buscar um cônjuge. Para os homens, isso significa que o casamento nos chama a deixar nosso interesse egoísta por prazer genital em favor da plenitude do ato sexual no relacionamento conjugal. Expressando em termos mais diretos, creio que Deus tenciona que um homem seja disciplinado, direcionado e estimulado à fi delidade conjugal por meio do fato de que a sua mulher se dará livremente a ele, no ato sexual, quando ele se apresenta como digno da atenção e desejo dela.

Ser específico pode nos ajudar neste ponto. Acredito que a glória de Deus é vista no fato de que um homem casado, fiel à sua esposa, que a ama genuinamente, acordará de manhã motivado pelo desejo e anelo de tornar sua esposa orgulhosa, confiante e segura de sua dedicação a ela. Um esposo que espera realizar o ato sexual com sua esposa terá como alvo de sua vida fazer aquelas coisas que trarão orgulho legítimo ao coração da esposa, se dirigirá a ela com amor como o alicerce de seu relacionamento e se apresentará a ela como um homem que lhe dá orgulho e satisfação.

Considere esses dois quadros. O primeiro é o de um homem que se determina a um compromisso de pureza sexual e vive em integridade sexual com sua esposa. A fim de satisfazer as expectativas legítimas de sua esposa e de maximizar o prazer de ambos no leito conjugal, ele se mostra cuidadoso em viver, conversar, liderar e amar de tal modo que sua esposa acha sua satisfação em dar-se a si mesma em amor. O ato sexual se torna uma culminação de todo o relacionamento, e não um ato físico isolado que é meramente incidental ao amor de um para como o outro. Eles não usam o sexo como um meio de manipulação, nem se focalizam vulgarmente no prazer pessoal egocêntrico; ambos se dão um ao outro em paixão imaculada e irrestrita. Nesse quadro, não há vergonha. Diante de Deus, esse homem pode estar confiante de que está cumprindo suas responsabilidades como marido e homem. Está dirigindo sua sexualidade, seu impulso sexual e seu vigor físico ao relacionamento de “uma só carne” que é o paradigma perfeito da intenção de Deus na criação.

Por contraste, considere outro homem. Ele vive sozinho ou, pelo menos, em um contexto diferente do contexto de casamento puro. Seu impulso sexual direcionado por egoísmo e não por altruísmo se tornou um instrumento de luxúria e auto-satisfação. A pornografi a é a essência de seu interesse e estímulo sexual. Em vez de achar satisfação em uma esposa, ele vê fotos impuras para ser recompensado com estimulo sexual que surge sem responsabilidade, expectativa e necessidade legítima. Expostas diante dele, acham-se uma variedade aparentemente inumerável de mulheres nuas, imagens sexuais de carnalidade explícita e uma abundância de perversões que têm o propósito de seduzir a imaginação e corromper a alma. Esse homem não precisa se preocupar com sua aparência física, sua higiene pessoal ou seu caráter moral aos olhos de uma mulher. Sem essa estrutura e responsabilidade, ele está livre para obter seu prazer sexual, sem levar em conta seu rosto não barbeado, sua indolência, seu mau hálito, o odor de seu corpo ou sua aparência física. Ele não está sob nenhuma exigência de respeito pessoal, e não tem alguém para avaliar a seriedade e a dignidade de seu desejo sexual. Em vez disso, seus olhos vagueiam pelas imagens de rostos sem afeição, contemplando mulheres que não lhe fazem qualquer exigência, não se comunicam com ele e nunca lhe dizem não. Não há troca de respeito, troca de amor e nada mais do que o uso de uma mulher como objeto de sexo para o prazer sexual pervertido e individual desse homem.

Esses dois quadros de sexualidade masculina tencionam incutir propositadamente a lição de que cada homem tem de decidir quem ele será, a quem servirá e a quem amará. Em última análise, a decisão de um homem a respeito da pornografi a é uma decisão a respeito de sua alma, de seu casamento, de sua vida e de seu Deus.

A pornografia é uma difamação da bondade da criação de Deus e uma corrupção desse ótimo dom que Deus outorgou às suas criaturas, motivado por seu amor altruísta. Abusar desse dom significa enfraquecer não somente a instituição do casamento, mas também a própria estrutura da civilização. Escolher a luxúria em lugar do amor é aviltar a humanidade e adorar a falsa divindade [da mitologia grega] Priapus, na mais descarada forma de idolatria moderna.

O uso deliberado da pornografia equivale ao convite voluntário de amantes ilícitos, objetos de sexo e conhecimento proibido ao coração, mente e alma do homem. O dano no coração do homem é incalculável, e o custo da infelicidade humana só será evidente no Dia do Juízo. Desde o momento em que cada homem atinge a puberdade até o dia em que morre, ele luta contra a luxúria. Sigamos o exemplo e a ordem bíblica de fazermos uma aliança com os olhos para não contemplarmos o pecado. Nesta sociedade, somos chamados a ser responsáveis uns pelos outros em meio a um mundo que vive como se nunca haverá de ser chamado a prestar contas.

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Capítulo 5 do ótimo livro Desejo e Engano, de R. Albert Mohler Jr., (Editora Fiel, 2009. 133 p.), o qual está disponível para download gratuito no site da editora. Para tal, é necessário cadastrar o email no site.

 

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