domingo, 24 de outubro de 2010

Esboço de sermão 2: Exposição sobre a União das Duas Naturezas do Redentor (com ênfase na Redenção Particular)

Graça e paz, irmãos!

Continuando nossa exposição no Credo Apostólico, hoje vamos tentar resumir quase dois mil anos de história em cerca de quarenta minutos. Refiro-me à doutrina da União das Duas Naturezas do Redentor, que ao longo dos séculos tem sido motivo de muita controvérsia teológica no seio da Igreja. Tal doutrina encontra-se exposta no terceiro artigo do Credo, sobre o qual vamos dissertar agora:

“O qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria”.

Para tal, vamos abrir nossas bíblias no Evangelho Segundo Mateus, no capítulo 1, dos versos 18 a 25, onde temos um relato do nascimento virginal de Jesus, que pode perfeitamente ser encarado com um relato histórico da União das Duas Naturezas do Redentor:

    • 18Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo.
    • 19Mas José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente.
    • 20Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado é do Espírito Santo.
    • 21Ela dará à luz um filho e lhes porás o nome Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.
    • 22Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta:
    • 23Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco).
    • 24Despertando José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua mulher.
    • 25Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho; e pôs o nome de Jesus (Mt 1.18-25).

Vou começar com uma frase do grande reformador João Calvino: “Divindade e humanidade são os dois requisitos que devemos procurar em Cristo, caso pretendamos encontrar nele a salvação”. Quando nos propomos falar sobre a doutrina da União das Duas Naturezas do Redentor numa só Pessoa, estamos simplesmente tratando sobre um dos pontos centrais da fé cristã. Infelizmente, essa verdade foi por muito tempo e por muitas pessoas negligenciada, questionada, negada e deturpada. Os ebionitas, discípulos de Cerinto (gnóstico docetista), negavam a divindade de Jesus. Eles diziam que o elemento divino (o “cristo”) desceu sobre Jesus por ocasião do seu batismo, mas o deixou na crucificação. Ário negava a filiação eterna de Cristo. Foi combatido por Atanásio e condenado no Credo Niceno (325 A.D). Os eutiquianos, por sua vez, negavam a humanidade de Jesus, e ficavam só com o Jesus divino. Foram condenados no Concílio de Calcedônia (451 A.D).

A Natureza Divina de Cristo

Duas implicações sobre esta doutrina (sugestão de Wayne Grudem):

1. Ela mostra que em última instância a salvação vem do Senhor (Jn 2.9). O milagre da concepção de Cristo deve-se unicamente a Deus. E, visto que Cristo é o nosso Salvador, nossa salvação logicamente também deve-se a Deus.

    • Interseções com o texto de Mateus: O anjo falou pra José que a concepção de Maria fo algo de que veio “de fora”, a saber, do Espírito Santo.

2. “O nascimento virginal tornou possível a união da plena divindade com a plena humanidade em uma só pessoa [União hipostática]. Esse foi o meio que Deus usou para enviar seu Filho (Jo 3.16; Gl 4.4) ao mundo como homem. Se pensarmos por um momento em outros modos possíveis pelos quais Cristo poderia ter vindo ao mundo, nenhum deles seria claramente a união entre divindade e humanidade em uma pessoa” (Wayne Grudem).

    • Interseções com o texto de Mateus: A união hipostática se deu “na plenitude do tempo” (Gl 4.4). Mateus diz que de Abraão a Davi contaram-se catorze gerações; de Davi ao exílio babilônico, catorze; e do exílio a Jesus, catorze (Mt 1.17). Os judeus poderiam estar pensando qual seria o “grande próximo evento” depois do cativeiro babilônico. A resposta: o evento “Deus conosco”. Aleluia!

A Natureza Humana de Cristo

Cinco verdades acerca da natureza humana de Cristo (sugestão de Ronald Hanko):

  1. Ela era real – O docetismo pregava que o corpo de Jesus não era real, de carne e osso, mas uma mera aparência. O apóstolo João, em suas cartas, combateu veementemente essa heresia: “Todo espírito que confessa que Jesus veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo” (1 Jo 4.2-3); “Porque muitos enganadores tem saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo” (2 Jo 7).
  2. Ela era completa – Cristo não encarnou apenas em “alguns aspectos” de nossa natureza, mas em todos eles. Ele tinha que tomar cada parte dela, pois toda ela precisava ser redimida – nosso alma, mente, vontade e coração.
  3. Ela era sem pecado – Uma das coisas que Davi disse e que Jesus jamais diria era que “nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu a minha mãe” (Sl 51.5). Isto porque Jesus, apesar de também ter nascido do ventre de uma mulher, não foi concebido da mesma maneira que Davi (relacionamento sexual), mas pelo Espírito Santo. Ele não tinha nem pecado original nem pecado real, o que implica dizer que Ele não somente não pecou, mas também que Ele não poderia pecar. Ele “não conheceu pecado”, disse Paulo (2 Co 5.21); “foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” e “santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores”, diz o autor aos Hebreus (Hb 4.15; 7.26).
  4. Ela era fraca – Nenhuma das verdades acima implica que Jesus era isento de fraquezas. Por ter se tornado carne, ele estava sujeito a todos os males resultantes do pecado, embora não ao próprio pecado. Ele teve fome, dor, tristeza, sofrimento, fraqueza e até mesmo morte. Isaías referiu-se a Jesus como um “homem de dores e que sabe o que é padecer”. Ainda conforme o profeta, seus sofrimentos deveriam ser explicados assim: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores tomou sobre si... Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades”. Ou seja, “o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele” (Is 53.3-5).
  5. Ela era oriunda da linha do Pacto (Aliança) – Não obstante o fato de Deus ter dito à serpente que o “descendente” da mulher esmagaria sua cabeça (Gn 3.15), isso não quer dizer que Cristo descenderia de qualquer um dos filhos de Adão, ou que poderia haver uma “quebra” de continuidade em sua (de Cristo) genealogia. Cristo deveria necessariamente descender de Abraão, Isaque, Jacó, Judá e Davi. Isso pode ser atestado na genealogia traçada por Lucas, que vai de Cristo a Adão (Lc 3.23-38). Mateus, por outro lado, começa com Abraão (Mt 1.1-17). Cristo era mesmo o “Filho de Davi” profetizado pelos antigos (2Sm 7; Is 11.1-2; Sl 89. cf. Mt 1.1; Lc 1.32; Rm 1.3,4). Isso serve para remover toda e qualquer dúvida que porventura venhamos a nutrir de ser Jesus o Messias que fora anteriormente prometido. Várias tentativas foram feitas ao longo da História humana para impedir o evento “Deus conosco”, mas todas elas fracassaram (cf. Mt 2.13-23).
    • Interseções com o texto de Mateus: O interessante no evangelho de Mateus é que ele faz questão de frisar que as profecias deveriam se cumprir. O nascimento de Cristo foi virginal “para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel” (Mt 1.22,23). Cristo tinha que nascer em Belém da Judéia, não em qualquer outro lugar, “porque assim está escrito por intermédio do profeta: E tu, Belém, da terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo, Israel” (Mt 2.5,6). Maria e José fugiram com Jesus para o Egito “para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: Do Egito chamei meu Filho” (Mt 2.15). Herodes mandou matar todos os meninos menores de dois anos de idade que moravam em Belém e arredores para que se cumprisse “o que fora dito por intermédio do profeta Jeremias: Ouviu-se um grande clamor em Rama, pranto [choro] e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais existem” (Mt 2.16-18). E depois que Herodes enfim morreu, José e Maria partiram para morar com Jesus numa cidade chamada Nazaré, “para que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno” (Mt 2.23).

Aplicação com ênfase na Redenção Particular (“Expiação Limitada”)

Por que Cristo nasceu? Por que “o Verbo se fez carne e habitou [tabernaculou] entre nós”? Paulo responde: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores” (1 Tm 1.15). Sua morte não foi para tornar a salvação possível, mas para torná-la real e eficaz. Mas para quais pecadores? Todos? O anjo que apareceu a José responde: “Ela dará à luz um filho e lhes porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles (Mt 1.21). Os próprios sacerdotes e escribas, após terem sido perguntado por Herodes onde nasceria o Cristo, responderam com a profecia de Miqueias (Mq 5.2): “E tu, Belém, da terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo, Israel (Mt 2.6). A encarnação do Verbo, a qual Paulo chama de “o grande mistério da piedade” (1 Tm 3.16), só encontra seu sentido quando olhamos para aquilo que Deus fez na cruz por intermédio da Pessoa do Seu Unigênito: reconciliar pecadores consigo mesmo, dentre os quais estamos nós, “aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós [em nós!], esperança da glória” (Cl 1.27). Dizer que as duas naturezas do Redentor convergem para a grande verdade de uma expiação particular não é, como alguns podem pensar, um “delírio calvinista”, e sim uma grande verdade que as Escrituras nos ensinam.

Solus Chritus! Soli Deo Gloria!

Leonardo Bruno Galdino.

Pregado na I Igreja Presbiteriana de Santarém/PA, em 24/10/2010.

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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Carta a Jean: o que fazer quando não “cabemos” mais numa igreja?

Caro Jean*,

apertado2Pouco antes de ler seu e-mail eu estava ouvindo uma de suas músicas favoritas nos tempos de adolescência. “Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia”… – Não vou me adaptar, dos Titãs. O interessante é que essa música é de autoria de exatamente dois ex-integrantes dessa banda que resolveram pular fora do barco por sentirem que também já não “cabiam” mais naquele contexto: Nando Reis e Arnaldo Antunes. Aliás, só a título de curiosidade, Jean, “Cabimento” é o nome da quinta faixa do álbum Saiba (2004), também do Arnaldo. Agora entendo porque ele e Nando eram os seus Titãs favoritos. Engraçado como essa lembrança repentina que tive caiu como uma luva para o tema do seu e-mail, não foi? Coincidência? Sorte? Não, isso não tem cabimento!

Vamos aos fatos: a igreja em que nos convertemos não é, digamos assim, um terreno fértil para quem quer crescer qualitativamente no conhecimento das Escrituras, visto que sua agenda é mais voltada para uma geração que não quer nem saber se o pato é macho – só quer o ovo e ponto final. Uma geração que não gosta de pensar; imatura; medíocre; que não questiona nem afere o que ouve com a Palavra, tal como os bereianos de Atos 17. Ou seja, uma geração tipicamente gospel – superficial, vazia, irrelevante. E você, mais do que ninguém, sabe que não estou exagerando. Junte-se a isto o fato de o pastor da igreja, além de assentir com a superficialidade intelectual de suas ovelhas, não somente embota o crescimento delas, como também impede aqueles que querem levá-las a uma reflexão séria e comprometida com o cristianismo bíblico. Afinal de contas, não é um pintinho que quebrou a casca agora que vai ensinar um galo velho a comer milho, não é mesmo? De fato, todas essas coisas parecem mesmo justificar esse teu sentimento de inadequação eclesiástica.

Mas talvez uma delas seja mesmo o pivô de tudo, a saber, o fato de que você agora é reformado. Eu sei que não é preciso ser necessariamente reformado para se querer reforma na igreja. Aliás, conheço ótimos arminianos nesse sentido. Que dizer de A. W. Tozer, por exemplo? Alguém acertadamente já disse que ele é o arminiano que os calvinistas mais apreciam e de quem poucos discordam. Além dele, conheço muitos que, a despeito de não se identificarem com a teologia reformada, possuem certa coerência naquilo em que reivindicam em seus respectivos contextos. Eu mesmo, por exemplo, sequer conhecia os cinco pontos do calvinismo quando comecei a clamar por reforma em nosso meio, pelo que fui amordaçado, o que me leva a concluir que o problema da liderança da igreja aí não é exatamente com os reformados, mas com qualquer um que se atreva a ir um pouco mais além do comodismo intelectual vigente. Contudo, devo confessar que foi mesmo quando descobri as antigas doutrinas da Graça que o negócio realmente tomou proporções maiores e mais consistentes. Agora sim, não se tratava de questionar apenas as práticas litúrgicas e outras esquisitices próprias da cultura “gospel” que por lá imperavam (e ainda imperam!) – a doutrina também entrou na jogada.

Isso acarretou uma série de mudanças, como fui previamente “alertado” por um pastor reformado com quem muito aprendi. Não, ele não estava usando de proselitismo, até porque sua igreja ficava muitíssimo distante do bairro onde eu morava. Ele estava apenas me chamando a atenção para algo que eu não conseguia mensurar naquele momento – talvez pela pouca idade, talvez pelo pouco conhecimento que eu tinha de história da Igreja. Quando a fé reformada começou a pulsar a todo vapor em minhas veias, propus a realização de um simpósio reformado em nossa igreja, mesmo sendo ela arminiana e quase neopentecostal (imagine só?!). O pastor, mesmo suspeitando de nossas intenções, autorizou a realização do evento, e só – não pude ter mais do que o seu “aval”. Elencar os preletores não foi tarefa fácil, mas graças a Deus conseguimos trazer a maioria que tínhamos em mente. Contei com o apoio de alguns irmãos que também passaram a engajar-se no ideal reformado de igreja para que ajudassem na organização do evento. Isso foi em 2005, exatamente em outubro, mês da Reforma. Era o meu último ano em Recife, já que no início do ano seguinte eu estaria de partida para Minas Gerais, por conta de minha aprovação num concurso público. Mas eu nem esperei janeiro chegar para finalmente sair daquela igreja para uma reformada, com quem eu já flertava. Mesmo com a realização do simpósio (que foi muito bom, diga-se de passagem), eu senti que minha situação ali já não podia mais se sustentar, visto que as indiretas vindas do púlpito passaram a ser mais frequentes e fortes do que antes, como coisas do tipo “você só quer saber de ‘teologia’! ‘Teologia’, ‘teologia’… ‘Teologia’ que nada!”. Foi quando eu finalmente concluí que não “cabia” mais naquela igreja.

Eu nem imaginava que chegar a uma conclusão dessas poderia ser tão doloroso como foi, ainda mais quando se tem toda uma história de vida eclesiástica deixada para trás. Afinal de contas, querendo ou não foi ali que aprendi a tomar gosto pelo estudo da Bíblia, sob a influência de professores a quem até hoje tenho grande estima e, por que não dizer, dívida. Mas é uma pena que nem eles mesmos puderam ir muito longe em seus projetos de educação religiosa, visto que o investimento nessa área era pouco. Parece que certos pastores se contentam em tratar suas ovelhas como se elas fossem eternamente neófitas, sob o pretexto de que sempre é bom relembrar os “fundamentos da fé”, quando na realidade isso não passa de puro pretexto para justificar sua preguiça em buscar pastos verdejantes para o seu rebanho, na maioria dos casos. Não estou te contando isso para que você trilhe o mesmo caminho que eu, Jean, mas para te mostrar os erros e acertos de um jovem reformado que descobre que não “cabe” mais em sua igreja. Hoje, depois de algumas experiências que tive ao longo de todo esse tempo (curto, mas suficiente), posso te dizer que aprendi bastante com os meus próprios erros. E é justamente aqui que eu posso te ser mais útil.

Você bem sabe que por três anos eu congreguei numa igreja arminiana no interior de São Paulo – não porque eu tinha intenções de “reformá-la”, óbvio que não, mas pela falta de igrejas reformadas nas proximidades. E uma das coisas que eu posso te dizer que fez toda diferença no meu convívio lá foi o fato de, logo no início, eu ter procurado o pastor da igreja para conversar com ele sobre minhas perspectivas teológicas, algo que não fiz quando estava aí em Recife. Ou seja, eu nunca escondi das pessoas que eu era calvinista, muito embora quase ninguém por lá soubesse que “bicho” era esse – só achavam minha perspectiva um pouco “diferente”. É óbvio também que isso não foi suficiente para evitar atritos teológicos entre nós, mas penso que seria bem pior se o pastor depois viesse a descobrir que eu era um membro do “Serviço Secreto Calvinista” que havia se infiltrado em sua igreja. Mas penso também que se ele realmente considerasse o calvinismo como uma “praga”, ele não teria me dado tantas oportunidades para pregar, ensinar na escola dominical, liderar jovens, etc. Quando nos concentramos em apenas expor o texto bíblico (pregação expositiva), é natural que as pessoas revelem a sede que tem. Alguns irmãos resolveram abraçar a fé reformada. A tudo isto eu dou graças a Deus pela sabedoria que Ele me deu para lidar com aquela situação – para conviver em comunhão com a igreja e com o pastor, e não ser desnecessariamente “do contra” em todas as ocasiões (aprendi isso lendo o puritano Richard Baxter!).

Eu sei que no teu caso isso pode não resolver mais, visto que já não és mais nenhum novato na igreja (você praticamente cresceu aí!), mas penso que você também deveria procurar o pastor para conversar, em vez de ficar carregando esse peso consigo. Arrume coragem e vá lá no gabinete dele, só vocês dois – não para enfrentá-lo, mas para uma conversa franca entre ovelha e pastor. Abra seu coração, desabafe! Mas não se exalte: controle-se! Lembra-te das palavras de Paulo ao jovem Timóteo: “Foge das paixões da mocidade” (2Tm 2.22, onde o contexto sugere o controlar os ânimos no calor de uma discussão). Exponha sua perspectiva com clareza. Se ele se mostrar irredutível, você pelo menos fez a sua parte. E se você acha que agora tem motivos suficientes para sair da igreja, avalie bem e veja se é isso mesmo que você quer, visto que tens uma classe de novos convertidos para cuidar na escola dominical. Eles com certeza sentiriam muito a tua falta, e você a deles. Mas aconteça o que acontecer, deixe a casa em ordem. E lembre-se de que você também precisa ser pastoreado. Digo isso porque eu sei que de reformado só ficou você aí. Elton mudou de bairro, e Josué recentemente foi para uma igreja presbiteriana. Também convivi com eles por todo tempo que estive aí, mas já naquela época eles também já mostravam sinais de cansaço, assim como eu, até que não aguentaram mais e resolveram sair. Agora, você não tem mais ninguém por perto. A “Síndrome de Elias” parece que te pegou. Ninguém mais para compartilhar ideias, dilemas, etc. Mas olha bem ao teu redor. Pode ser que não tenha os sete mil lá de 1Rs 19.18, é verdade, mas certamente deve ter alguns por aí que abracem a fé que tens pregado, inclusive na classe em que ensinas na escola dominical. Lembre-se que por vezes os frutos aparecem de onde menos imaginamos. “Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia”, diz o Senhor (Is 55.11). Creia nisso!

Vou ficando por aqui, Jean. Parece que o que fiz foi mais desabafar do que ajudar, não foi? Julguei necessário. Mas espero ter te ajudado. Qualquer coisa, procure o Josué, pois ele tem bastante experiência para te passar. Aproveita que ele é praticamente teu vizinho. De vez em quando dá uma ligada pro Elton também. Ele foi um cara que me ajudou muito, e a quem devo o gosto que tenho hoje pelo estudo da Palavra. Certamente, ele te será muito útil também. Se fores visitar uma igreja reformada e se sentires bem lá, ore a Deus e pondere bem antes de tomar qualquer decisão, sempre tendo em mente que todas as igrejas tem problemas. E não se esqueça de compartilhar tudo com sua noiva. Afinal de contas, a ideia é que vocês logo em breve sejam uma só carne (“uma só carne, uma só igreja” – rsrs!).

Saudações reformadas! E mantenha o contato.

Att,

Leonardo Bruno.


Soli Deo Gloria!

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*Jean é um nome fictício, bem como alguns (somente alguns mesmo) detalhes. As circunstâncias, porém, são bem reais.

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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

No que alguém deve crer para ser chamado de calvinista?

Essa foi uma pergunta que me fizeram lá no Formspring.me. Achei por bem postar minha resposta aqui.


Douglas,

Muito boa essa sua pergunta!

Veja bem. Já que o requisito para ser calvinista não é o mesmo que para ser salvo (porque se fosse já não seria mais pela Graça*), podemos dizer que para ser calvinista uma pessoa deve, sim, crer e defender algumas doutrinas distintivas do sistema teológico que ficou conhecido como "reformado", sistema este oriundo de João Calvino e seus sucessores (no contexto mais imediato, os puritanos).

Entretanto, uma vez que não há consenso entre os calvinistas sobre certos aspectos desta mesma fé (como por exemplo no campo da escatologia, pneumatologia e eclesiologia, somente para citar os mais relevantes), restringimos o termo àqueles que creem e defendem a soteriologia reformada, que foi historicamente resumida em cinco artigos - os famosos "Cinco pontos do Calvinismo". Isso é o mínimo que todo bom calvinista deve conhecer, defender e pregar (mesmo que ele depois acabe se enroscando, por exemplo, em questões envolvendo a ordem dos decretos - supralapsarianismo x infralapsarianismo).

Mas é óbvio que o calvinismo não é somente doutrina - ele também é vida! Não apenas ortodoxia, mas sobretudo ortopraxia. E que ninguém ouse afirmar que é um legítimo calvinista se não viver o que prega o legítimo calvinismo, pois, como diria um dos calvinistas mais ilustres de todos os tempos, Charles Haddon Spurgeon, "a profissão de fé sem a graça divina é a pompa funerária de uma alma morta".

Espero ter ajudado.

Volte sempre, e obrigado pela pergunta.

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* Não que ser calvinista seja fruto de obras! Continuamos atribuindo tudo à Soberana Graça de Deus!

Pergunte-me qualquer coisa

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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Florentina, Florentina, Florentina de Gizuiz!

TIRIRICA_candidatoÉ, pessoal… deu a lógica: Tiririca Deputado! Já tava na cara que isso ia acontecer. Agora vamos ter que aguentar aquele hitzinho ridículo mais uma vez incomodar nossos ouvidos. Ops! Eu falei “nossos”? Acho que me equivoquei. Existem aqueles que hão de gostar. Quem são? Preciso mesmo responder? Acho que não, né?

Tiririca eleito é mais uma prova de que o povo brasileiro, assim como seu mais novo e ilustre deputado, de fato, está aqui para brincadeira. “Vote Tiririca: pior que tá não fica”! De fato, pior do que ele só os seus eleitores, incluindo aqueles que fizeram dos seus votos uma forma de “protesto” – burro, diga-se de passagem! Como brasileiro, entristeço-me demais por transformarem meu país em piada, literalmente.

Sem mais comentários, senão adoeço.

ProntoFalei!

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