terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Análise da Música "Os Sonhos de Deus", de Ludmila Ferber


[Escrevi esse texto a irmãos de um grupo de louvor de uma igreja histórica que queriam incorporar a referida música aos cânticos congregacionais de sua igreja local. Acredito que, por isso, os leitores reformados hão de compreender minha parcimônia.]

Se tentaram matar os teus sonhos
Sufocando o teu coração
Se lançaram você numa cova
E, ferido, perdeu a visão
Não desista, não pare de crer
Os sonhos de Deus jamais vão morrer
Não desista, não pare de lutar
Não pare de adorar
Levanta teus olhos e vê:
Deus está restaurando os teus sonhos
E a tua visão
Recebe a cura
Recebe a unção
Unção de ousadia
Unção de conquista
Unção de multiplicação


Análise

A música fala sobre uma pessoa que está sendo ameaçada de ver os seus sonhos mortos e o coração sufocado; que foi jogada ferida e sem visão dentro de uma cova. A autora, então, encoraja tal pessoa a não desistir; a não deixar de crer; não parar de lutar, de adorar; a levantar os olhos e ver que Deus está restaurando os seus sonhos e a sua visão, pois “os sonhos de Deus jamais vão morrer”. A seguir ela declara que a pessoa receba a cura e a unção de ousadia, de conquista e de multiplicação.

A começar pelo título a música já comete um erro teológico gravíssimo: o de afirmar que Deus sonha. Essa afirmação (“os sonhos de Deus jamais vão morrer”) não encontra sustentação bíblica nem teológica. Quando afirmo que Deus “sonha” eu estou tirando-O da sua posição de soberania e reduzindo-O à categoria de ser submisso. Deus não sonha, Ele age (“E disse Deus: ‘Haja luz’. E houve luz” – Gn 1.3); Deus não sonha, Ele determina (“Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nenhum deles havia ainda” – Sl 139.16). Portanto, devemos ter muito cuidado em atribuir metáforas a Deus que não se harmonizam com os seus atributos.

Esse erro que acabamos de detectar puxa um outro, que é o de tornar Deus passivo na história e o homem senhor dela. Note que, na música, o sujeito não é Deus, e sim, o homem. Ou seja, para que as coisas aconteçam é preciso que você, e não Deus, tome a iniciativa. Esse pensamento, que na realidade é uma doutrina, é conhecido como “Confissão Positiva”, que prega que você deve ter um pensamento positivo para ser vitorioso. A autora apela para os sentidos do ouvinte, e não para a razão, ao usar palavras como “sonho”, “coração”, “visão”, “cura” e “unção” para indicar que atitude se deve tomar diante das dificuldades. Além disso, parece haver aqui uma pitada de “batalha espiritual” (“não desista, não pare de lutar”), que é um tema bem presente nos grupos denominados neopentecostais.

O refrão é o expoente máximo de toda a teologia contida no restante da música, pois nele estão os seus elementos essenciais. “Recebe a cura/ recebe a unção/ unção de ousadia/ unção de conquista/ unção de multiplicação”: aqui estão algumas das palavras-chave do movimento conhecido como G-12 (Grupo dos 12, em referência aos doze apóstolos), do qual a autora é adepta (assim como Diante do Trono, David Quinlan e outros). Receber a cura, aqui, significa ter a “visão dos 12”, frase bastante usada por esse grupo; receber a unção pode significar, dentre outras coisas, receber o título de apóstolo, como o fazem muitos dos líderes do G-12, para não dizer todos, ou mesmo uma capacitação especial; unção de ousadia significa não medir esforços para combater os principados e potestades, fazendo com que o evangelho seja pregado, não importa de que forma; unção de conquista significa, por exemplo, declarar que “o Brasil é do Senhor Jesus”, conquistando as regiões celestes que estão dominadas pelas hostes malignas, por meio de “Marcha pra Jesus” e coisas do gênero; unção de multiplicação significa igreja em células, método de crescimento das igrejas neopentecostais que adotam a filosofia do G-12 (uma célula contém doze pessoas; cada célula tem um líder; doze células são lideradas por um pastor-supervisor, e assim sucessivamente).

Para concluir gostaria de dizer que o desejo de encorajar a um irmão que está passando por dificuldades, sejam elas materiais ou espirituais, é absolutamente legítimo, e a música tem um papel muito importante nisso. Mas quando ela ultrapassa certos limites impostos pela própria Palavra de Deus e presume ser usada nos cânticos congregacionais é necessário que se analise se realmente ela se encaixa nos padrões confessionais da igreja, desde que os mesmos sejam bíblicos.

Leonardo Bruno Galdino

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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Credo

Aguarde: em processo de edição.

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Quem escreve

LEONARDO BRUNO DE CASTRO GALDINO é um pernambucano de Recife, apaixonado pelas letras, por música e, como todo brasileiro que se preze, por futebol.

Seu interesse inicial foi o futebol, assim que começou a andar (que exagero!). Até tentou ser jogador profissional, quando jogava nos times de várzea de sua cidade. Finalmente, foi reprovado num “peneirão”, fato que o fez concluir que o caminho não era bem esse (buáááá!). A desculpa que ele sempre deu é que a lateral esquerda não é tão valorizada pelos olheiros de plantão.

Aos 16 anos de idade, ganhou seu primeiro violão (um Gianinni Série Estudo), que até hoje possui. Suas influências musicais foram o pop rock nacional dos anos 80’s e a MPB, basicamente. Tentou estudar violão clássico num conservatório (recentemente), mas não conseguiu prosseguir no curso por uma série de fatores. Contudo, aprendeu maior parte do que sabe observando e ouvindo os grandes músicos (o grande segredo está no ouvir). Atualmente, tem como principais influências nomes famosos como Lenine, Yamandu Costa e João Alexandre, por exemplo, mas também desconhecidos como Andy Mckee, Antoine Dufour, Peter Ciluzzi, Eric Mongrain e Michael Hedges (vale a pena clicar).

Mas seu interesse mais recente e forte foi mesmo a teologia. Interessou-se por ela quando começou a estudar a Bíblia com mais seriedade, fato que o levou ao conhecimento da Teolgia Reformada. A partir de então, tem se dedicado a estudá-la com mais afinco, por meio dos livros que compra. Foi a partir do interesse por teologia que começou a escrever seus próprios textos, numa tentativa de registar por escrito os seus pensamentos a respeito daquilo que lê (e crê).

Atualmente, além de escrever para este blog, escreve também para o blog 5 Calvinistas.
Ademais, é casado com uma bela mulher chamada Adnna e é pai do pequeno Lucas.
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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

"Não basta consertar a cerca - é preciso melhorar, também, o pasto".


Ouvi essa frase de um irmão quando conversávamos sobre a crise que assola os púlpitos de nossas igrejas. A falta de clareza expositiva, bem como a eficácia na aplicação do sermão ao coração dos ouvintes tem sido marcas não registradas na voz daqueles que, a bem do ofício, deveriam ser arautos de Deus. Hoje, gasta-se muito em arame farpado, madeira e prego, mas quase nada em pastos realmente verdejantes para o rebanho. Gostaria de apontar algumas razões para isso.

Em primeiro lugar o grande problema está no desprezo (ou falta de preparo mesmo!) de muitos pastores à pregação expositiva. Está cada dia mais difícil ver um pastor destrinchar o texto bíblico. O atrativo moderno são sermõezinhos tópicos de três pontos, duas ou três estorinhas engraçadas e pronto, "vão na benção, meus irmãos". Às vezes até (pra não dizer que eu não falei das flores) fazem advertências contra falsos ensinos, mas sem expor a verdadeira doutrina. Augustus Nicodemus costuma dizer que o grande problema não está somente no que o pastor fala, mas no que ele deixa de falar. Isso quando eles não fazem aberrações exegéticas. Certo dia estava no ônibus e subiu um desses pregadores itinerantes de coletivos. Ele disse que "a Bíblia diz que Cristo virá como um ladrão na noite, e o ladrão só veio pra matar, roubar e destruir". Pode ser que um pastor não chegue a esse extremo, mas, se ele deixa de expor o texto, na prática, produzirá resultados semelhantes ao do pregador que citei (uma mulher começou a rir no ônibus e ele a chamou de "macumbeira").

Em segundo lugar está a impressão que muitos pastores tem de que seus ouvintes não estão mais "suportando" a pregação. Sei que eles (os pastores) estão certos em muitos casos. Aliás, é o que Paulo diz a Timóteo ("Nos últimos tempos os homens não suportarão mais a sã doutrina. Sentirão como que coceiras nos ouvidos" - 2Tm 4.3). Mas o apóstolo não disse "olha, Timóteo, não enche a paciência dos irmãos não! Seja o mais breve e menos profundo possível na sua pregação"! Não. Ele disse "prega a palavra", e sabemos o que Paulo entendia ser uma verdadeira pregação da Palavra, não é mesmo? Acredito que o grande problema é que os pregadores parecem não crer na atuação poderosa do Espírito pela ministração fiel da Palavra, e ficam procurando uma forma de "enrolar" o rebanho. Uma certa ovelha chegou para o seu pastor e disse: "Pastor! Tenho sido muito abençoada com a sua pregação. O senhor não tem idéia"! O pastor, muito surpreso, disse: "Fico feliz por isso, irmã. Mas, no que especificamente minhas pregações a tem abençoado"? Ela respondeu: "É que ultimamente eu tenho tido problemas de insônia, e a sua pregação tem me abençoado por isso! Durmo tão bem quando o senhor tá falando, pastor"! Essa estória é fictícia (pra ser honesto [mas a do ônibus foi verdade mesmo!]), mas o que acontecerá com a saúde da igreja se tendências como essas se afirmarem como fatos? E, "venhamos e convenhamos", sabemos que a linha que separa a ficção da realidade, nesse caso, é bastante tênue.

E em terceiro lugar há uma relutância por parte dos pastores em admitir que seus sermões não estão sendo edificantes para as suas congregações. Acredito que pior do que não pregar expositivamente e do que achar que as ovelhas estão cansadas é não reconhecer que o auditório é reflexo do púlpito. Não estou sugerindo, aqui, um discurso pragmático, que dê resultados. Todavia, acredito que pregações genuinamente bíblicas dão, sim, resultados, sejam eles para encher ou até mesmo esvaziar mais a igreja. O próprio ministério de Jesus ilustra bem o que acabo de dizer. Numa certa ocasião, quando Jesus apontou a incredulidade de muitos dos seus seguidores, muitos O abandonaram (Jo 6.64-66). Não dá para entender como é que muita gente insiste em dar "murro em ponta de faca" (e a faca cega da flacidez doutrinária!). Discursos vazios, totalmente desprovidos de poder do alto, lotam a agenda dos relutantes pastores que não veem (o "vêem" foi abolido pela Reforma Ortográfica!) que o rebanho quer pastos verdejantes tanto quanto precisam de uma cerca resistente. "Deitar-me faz em verdes pastos; guia-me para junto das águas tranquilas", é a descrição que Davi encontrou de um pastor que cuida bem de suas ovelhas (Sl 23.2).

Alguém já disse que "a crise da igreja é fruto da crise na pregação", e esse sinal tende a se tornar cada dia mais pujante. A menos, é claro, que se invista no pasto tanto quanto na cerca (embora, por uma questão lógica, uma coisa deveria pressupor a outra).
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Sobre o blog

Queridos leitores,

O Optica Reformata, como o próprio nome sugere, é um blog de linha calvinista, que visa difundir a fé reformada na internet e, como bem reza a descrição constante no banner, “pensar, discutir, avaliar e interpretar as várias manifestações de fé que cercam o mundo evangélico (e também outros, se for o caso) a partir de uma ótica calvinista”. Apesar dessas poucas palavras resumirem com fidelidade e objetividade as pretensões deste blog, gostaria de acrescentar mais algumas.

[Como tudo começou…]

A ideia de criar um blog surgiu da necessidade que senti de compartilhar por escrito meus pensamentos e reflexões acerca da fé cristã com outros internautas, tornando possível uma maior interação com aquelas pessoas de comum interesse.

[Referências]

Inicialmente, minha referência foi o blog O Tempora, O Mores, do famoso trio reformado Augustus Nicodemus, Solano Portela e Mauro Meister. Sua interessante proposta de avaliar a cultura religiosa e secular que nos cerca a partir de uma perspectiva reformada serviu de “inspiração” para mim, que sempre gostei de fazer o mesmo, ainda que não necessariamente por escrito. Contudo, minhas referências foram se ampliando à medida em que fui conhecendo outros blogs igualmente excelentes, aos quais devo confessar minha dívida e gratidão (ver meu blogroll).

[Do nome do blog]

O nome do blog, por si só, já é suficiente para traduzir suas próprias pretensões. Uma vez que o termo “evangélico” tornou-se tão inclusivista, podendo incluir tanto liberais quanto ortodoxos; tanto históricos quanto neopentecostais; tanto reformados quanto teístas abertos, vi que era necessário cerrar as fileiras. Por este motivo, resolvi dar um nome à lente da qual se vale a minha ótica. Em minha opinião, não há outro sistema teológico que seja tão fiel às Escrituras quanto o é aquele que foi difundido e popularizado por Calvino e seus sucessores. ABRE PARÊNTESE. A preferência pelo latim (Optica Reformata) não tem nenhum valor teológico em si mesmo. FECHA PARÊNTESE.

[Pessoal/Impessoal]

Ainda que eu procure evitar escrever em primeira pessoa na maioria das postagens, isso não quer dizer que este blog seja absolutamente impessoal, até porque penso que isso seria impossível. A não ser que os textos fossem desprovidos de opinião, o que seria pura idiotice. Já que não foi nenhum spam quem criou este blog, podemos dizer que ele é, sim, um blog pessoal, ainda que algumas postagens não assumam esse tom (textualmente falando).

[Considerações finais]

Não encaro um blog como um “ministério” (eclesiasticamente falando) ou coisa do tipo, muito menos que ele substitua a comunhão local com os santos (imaginem fazer download do pão e do vinho e tomar junto com outros internautas?). Apenas entendo que as pessoas podem, sim, ser edificadas com uma leitura de qualidade, de textos que sejam embasados única e exclusivamente na Revelação de Deus. Meu sincero desejo é que o Optica Reformata atenda a essas expectativas.

No amor do Supremo Pastor das nossas almas,

Leonardo Galdino.

Soli Deo Gloria!

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