quarta-feira, 28 de maio de 2014

Deus, os cristãos e a causa do pobre

Abaixo, uma pergunta que recebi no Facebook a propósito de uma ligeira crítica que fiz a um texto do pastor presbiteriano Antônio Carlos Costa, da ONG Rio de Paz (o texto merece uma crítica mais demorada, mas fica para uma outra hora). Resposta logo em seguida, ligeiramente editada aqui.
Será que Deus não detesta ver os ricos em bons hospitais enquanto os pobres estão nos corredores e nas filas de cirurgias? Será que o Justo Juiz não se ira com o mal cheiro do esgoto a céu aberto das favelas enquanto os ricos sentem o cheiro do mar em seus apartamentos de zona sul? Será que o Soberano não abomina a disputa dos ricos bem instruídos com os pobres semi-analfabetos? Será que O Todo-Poderoso não ri ao ver tantos cristãos brasileiros com síndrome de europeísmo defendendo o estado mínimo em um pais em que tantos sobrevivem sem o mínimo de dignidade? Não vamos entregar o cuidado com os pobres ao marxismo. Nem vamos ser orgulhosos ao dizer: "cuidar dos pobres é tarefa exclusiva da Igreja, o estado não tem que se meter". Este é um valor cristão por excelência.
"Será que Deus não detesta ver os ricos em bons hospitais enquanto os pobres estão nos corredores e nas filas de cirurgias?" - pergunta pro Lula se ele prefere o SUS ao Sírio-Libanês (o hospital mais caro do Brasil) para tratar a sua saúde.

"Será que o Justo Juiz não se ira com o mal cheiro do esgoto a céu aberto das favelas enquanto os ricos sentem o cheiro do mar em seus apartamentos de zona sul?" - pergunta pra Regina Casé se ele troca seu apartamento no Leblon por uma casa na favela, que ela tanto diz adorar.

"Será que o Soberano não abomina a disputa dos ricos bem instruídos com os pobres semi-analfabetos?" - pergunta pro Ministro da Educação se o filho dele estuda em escola pública e quantos pobres ele deixou para trás na prova do vestibular.

Aí você me pergunta: "mas o Lula, a Regina Casé e o Ministro da Educação estão errados em querer o melhor para si?" E eu respondo: mas é claro que não! Estão absolutamente certos (desde que não seja feito às expensas do erário público, no caso dos políticos). Ora, se você tem condições de pagar por um serviço caro mas de qualidade, qual a razão de preferir o serviço barato (ou "de graça") e de péssima qualidade? Você vai mesmo preferir morrer porque "oh, há alguém morrendo neste exato instante na fila do SUS e eu preciso ser solidário a ele" (como a Yasmin Brunet, que disse que come pouco porque pensa nos milhões de famintos desse mundo)? Isso é contrassenso, para não dizer estupidez. E vou além: é pecado, pois viola o 6º mandamento ("Não matarás"). No caso dos figurões que citei, nem é preciso chegar ao contrassenso ou à estupidez, porque isso, posso garantir, é a últma coisa que lhes acomete. O problema dessa gente é mesmo a hipocrisia. Esse é o grande problema com a esquerda caviar.

Mas tem outra coisa para se pensar a partir dessas suas perguntas. Aliás, três coisas. Primeiro: gerir uma universidade cristã - de onde sairão os futuros médicos, professores, advogados, engenheiros e etc. - também conta como um "chamado para o pobre" ou só os que se enfurnam nas favelas é que são chamados para esta graça? 


Segundo: riqueza, bem-estar e conforto são coisas que existem "in natura" ou são coisas que se produzem e conquistam (lembre da escassez a que o homem foi reduzido e condenado após a Queda)? 

Terceiro: de quem é a culpa por toda essa desigualdade? Adianto que a esquerda dirá que toda a culpa é da "burguesia", e nunca, absolutamente nunca do próprio pobre. E como a meritocracia é um conceito "burguês-capitalista-opressor", a sua (da esquerda) proposta será sempre a de nivelar a todos. E do que ela precisa para isso? De um estado gigante e altamente interventor (o contrário do "estado mínimo"), o qual possa atuar como o "distribuidor de justiça". O grande problema com isso é que esse modelo político-econômico se mostrou e tem se mostrado um completo fracasso onde quer que tenha sido implantado, inclusive com o prejuízo de milhões de vidas - principalmente a dos pobres, público para quem ele pretensamente veio. Irônico, não?

Dizer que "cuidar dos pobres é tarefa exclusiva da Igreja, o estado não tem que se meter" não é questão de orgulho, mas de ser bíblico. Olhe para Atos 6 e veja se os apóstolos recorreram ao estado para socorrer as suas viúvas e órfãos. Em vez disso, diáconos foram instituídos para esse serviço. Aliás, não vejo qualquer pista bíblica no sentido de que o estado deve assumir para si essa função da caridade. Sua função está bem delineada em Romanos 13: o poder da espada. É com isso que ele deve se ocupar. E, como diria Fréderic Bastiat, o que precisamos  é "não esperar senão duas coisas do Estado: Liberdade e Segurança, e ter bem claro que não se poderia pedir mais uma terceira coisa, sob o risco de perder as outras duas". Os totalitarismos estão aí para provar essa verdade. Não entregar os pobres ao marxismo é exatamente não entregá-los ao estado.
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sexta-feira, 23 de maio de 2014

A Lei da Palmada e o desafio cristão

Irmãos,

estamos diante de uma situação delicada. Refiro-me ao Projeto de Lei 7.672 — também conhecido como a “Lei da Palmada” —, que desde 2010 tramitava no Congresso e foi aprovado na última quarta-feira pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Em resumo, é isso: os pais estarão proibidos de castigarem fisicamente os seus filhos. A invasão do estado (que é um governo) à soberania da esfera familiar (que também é um governo) caminha a passos cada vez mais galopantes em terra brasilis.

O apóstolo Paulo ensina que "toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16-17). Ora, se é verdade que "a Escritura não pode falhar" (João 10.35), então é fato que essa proibição absurda produzirá o que países como a Suécia — o primeiro a instituir uma Lei da Palmada, em 1979 — está experimentando: uma geração de crianças mimadas e mal preparadas para a vida adulta. E isso é o mínimo, pois sabemos que efeitos muito mais devastadores para a sociedade poderão decorrer daí (criminosos de toda espécie, por exemplo).

"A Escritura não pode falhar".

Provérbios 29.15 diz que "a vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe”. Diz também que filhos corrigidos trazem “descanso” e “delícias” à alma dos seus pais ("Corrige o teu filho, e te dará descanso, dará delícias à tua alma” — Provérbios 29.17). A experiência sueca (e agora a do Brasil, daqui para a frente) poderia ser bem diferente caso esse preceito fosse aplicado.

A referida Lei tem o objetivo expresso de estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante”. Mas vejam como a definição que a alínea I do Parágrafo Único dá a “castigos físicos” é elástica:
"Ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em sofrimento ou lesão à criança ou ao adolescente”.
Vocês concordam que um simples segurar o filho pelo braço (que é uso da força física) e lhe dar umas broncas poderá ser enquadrado como castigo físico, uma vez que poderá resultar em “sofrimento” para a criança? OK, vocês podem até não concordar que poderá resultar (e, de fato, poderá mesmo não resultar). Mas o fato é que, para o estado, i-ne-vi-ta-vel-men-te resultará, não tenham dúvida. Muita coisa (para não dizer tudo) poderá resultar em sofrimento para a criança: bastará o estado definir o quê. Aparentemente, é por amor aos menores que esse tipo de lei é pensado. Mas a Escritura, que, lembrando, “não pode falhar”, diz que privar a criança do castigo físico é, na verdade, odiá-la: “O que retém a vara aborrece [no hebraico, odeia] a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (Provérbios 13.24).

É evidente que não estou a defender aqui a violência contra as nossas crianças. Provérbios 19.18 alerta: “Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo”. O fato de achar essa lei absurda não significa que a violência contra a criança não existe. Sim, ela existe, e eu mesmo conheço casos e mais casos de pais que se excedem no castigo que infligem aos seus filhos quase “a ponto de matá-los”. Mas o fato é que o disparate dessa gente é tanto que rebatizaram a então Lei da Palmada para “Lei Menino Bernardo”, em homenagem a Bernardo Boldrini, que foi covardemente assassinado pelo pai e pela madrasta. Ou seja, "o pai que dá um tabefe na bunda de um moleque mal educado é rebaixado à condição de potencial psicopata que pode eventualmente matá-lo e dar um sumiço em seu corpo", como bem colocou Guilherme Macalossi. Querem exemplo maior de loucura?
 
A bancada evangélica no Congresso resistiu, mas não foi suficiente: a lei foi aprovada com unanimidade de votos. O marxismo, em sua guerra contra a família, acaba de ganhar mais uma batalha. Os pais serão ameaçados pelos próprios filhos, como já pude ouvir de um irmão da igreja em que sirvo.
 
O desafio que temos pela frente é grande, pois quando o estado legisla contra a Palavra de Deus nós somos chamados a resisti-lo (cf. Atos 5.29). A Escritura diz que a criança não é o anjinho que o pensamento politicamente correto pinta. Pelo contrário, "a estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela" (Provérbios 22.15). Se de fato amamos as nossas crianças, deveremos desobedecer ao estado neste particular. Como está escrito, "não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno" (Provérbios 23.13-14). A única coisa que a Lei da Palmada fará é povoar o lugar que Deus preparou para o diabo e seus anjos.

Que Deus proteja as nossas famílias do deus-estado e nos dê a sabedoria necessária tanto para enfrentá-lo como também para educar as nossas crianças no Seu temor.

Amém!

Para discussão: desobedecer ao estado mesmo correndo o risco de perder a guarda da criança? Qual a alternativa diante desse risco e do risco de repetir a experiência sueca (que já é a experiência de muitas famílias brasileiras)?
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