quinta-feira, 30 de junho de 2016

A linguagem do amor


Por Carl Trueman

Um correspondente perguntou-me recentemente (em um tom um tanto acusatório) por que gasto tanto tempo escrevendo sobre as questões do movimento LGBT. Mas, na verdade, é claro que eu não faço isso. Que eu dedico uma porção considerável do tempo cada semana para falar desse assunto no First Things é inegável. Mas, mirabile dictu, a maior parte do meu tempo não é, para falar a verdade, dedicada a escrever para o First Things. Mesmo assim, por que resolvo escrever tanto sobre esse assunto aqui? Não é, decerto, porque eu tenha um interesse particular nessas coisas. Ao contrário, é porque elas estão sendo usadas para refazer a sociedade de uma tal maneira que parecem configuradas para destruir não apenas a liberdade religiosa, mas outras liberdades básicas também. Se a causa apresentada dessa lamentável sucessão de eventos fosse, por exemplo, um programa patrocinado pelo governo para defender a aprovação do consumo obrigatório de Polenguinho, eu perderia meu tempo falando sobre essa abominação peculiar. Mas é o sexo, e não o Polenguinho, que tem conquistado a imaginação política – e é aqui, portanto, que aqueles que acreditam na liberdade devem concentrar suas atenções neste momento.


Tendo dito isto, fiquei impressionado com uma coluna recente de Rod Dreher na qual ele registra o aparente fracasso de muitos cristãos em perceber o que está acontecendo politicamente bem diante de seus olhos. E isto apesar do fato de muitos de nós dedicarem tempo escrevendo sobre o assunto, tentando analisar as questões. Qual é o problema? Uma das razões mais comuns é que muitos cristãos não fazem uma distinção básica entre a resposta individual adequada à população LGBT e uma resposta social mais ampla ao LGBTismo como uma ideologia política com metas bastante ambiciosas. E eles estão vulneráveis a esta confusão de categorias por causa do modo como a linguagem tem sido manipulada pelos ideólogos do movimento LGBT.


Todos os cristãos são obrigados a cuidar das pessoas – o estrangeiro, o viajante, o que está sofrendo, santos e pecadores indistintamente. A linguagem do amor, portanto, se identifica vigorosamente com os cristãos, que são sempre (com razão) suscetíveis aos seus encantos. Implemente essa linguagem do amor em um mundo tal como o nosso, onde a todo momento a estética emocional sobrepuja a ética, e ela torna-se passível de ser cooptada como retórica política por causa do seu poder de mexer com as pessoas e colocar qualquer resistência na defensiva desde o início. E quando isso acontece – Love Wins! –, o cenário para a confuão está montado. Cristãos bem intencionados que com razão querem amar e cuidar de seu próximo podem rapidamente tornar-se os bobos involuntários daqueles cujas ambições políticas e sociais são maiores do que o “viva e deixe viver”. Mesmo aqueles que desejam resistir estão em situação difícil, pois sabem que o oposto do “amor” é o “ódio”. Sendo assim, que vocabulário eles podem usar para expressar sua discordância?

Neste contexto, compete a todos os cristãos pensar claramente sobre tais questões e fazer essa separação entre a resposta pastoral e o cuidado pelo indivíduo que luta com problemas de sexualidade e as ambições sociais mais amplas de um movimento que tem um interesse pessoal em negar qualquer distinção entre o pessoal e o político. Fracassar em fazer essa distinção e demonstrar sua importância crucial provar-se-á, com o tempo, desastroso para a liberdade de todos. Pois quem, em seu perfeito juízo, se oporia ao amor?


A politização da linguagem do amor é, talvez, o desenvolvimento mais significativo – e, no que diz respeito à liberdade, o mais perigoso – na retórica do debate público por muitos anos.


***
Fonte: First Things.

Tradução de Leonardo Bruno Galdino.

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