domingo, 22 de agosto de 2010

De Mano Menezes a Eduardo Mano, a palavra é "renovação"

É verdade que o cantor e compositor evangélico Eduardo Mano não é tão famoso quanto seu outro “Mano”, o Menezes, mas os dois tem algo em comum. Se a proposta do Menezes é renovar a seleção brasileira, recuperando seu prestígio no cenário mundial com o seu característico “futebol arte”, encabeçado por Neymar, Ganso & Cia, a do Eduardo é trazer de volta, se não o prestígio, pelo menos a pureza doutrinária da música cristã, tão banalizada nos últimos tempos pela turma do movimento “gospel”. E aqui as semelhanças terminam: se o Mano famoso está justamente seguindo o coro dos cerca de 300 milhões de “treinadores” (dentre os quais me incluo), o Mano desconhecido parece que não cedeu ao convite de tomar banhos de chuva com os moleques travessos e inconsequentes de sua vizinhança.

O disco Canções para Grupos Pequenos não é tão deslumbrante e badalado quanto o atual elenco da seleção brasileira, mas é interessante. Sem pedaladas (a la Neymar) ou pedaleiras (a la Juninho Afram), as músicas são mesmo feijão-com-arroz, com apenas voz, violão, contrabaixo e percussão de leve (o cd é tipo “caseiro” mesmo). O porquê está na contracapa do disco: composto de “canções simples, gravadas de maneira simples e com poucos instrumentos […] É uma coletânea que busca exaltar a Deus e dar a Ele a glória que Lhe é devida. Seu formato simples é justamente um incentivo para que suas canções sejam usadas em Grupos Pequenos, Grupos Familiares, ECOs, reuniões de oração e culto a Deus”. De fato, pela simplicidade dos arranjos, dá pra perceber que a ênfase não recai sobre quem canta, mas em sobre o que se canta.

Não sei se o autor é calvinista, mas o disco ecoa algumas doutrinas distintivamente reformadas [1]. Por exemplo, na canção de abertura, chamada “Reinas Soberano”, podemos ver um misto de Soberania de Deus e Depravação Total:

Tua luz invadiu a escuridão que havia em meu viver/ Teu perdão consentiu que meu coração voltasse a bater/ Estava morto em meus delitos, eu já não tinha paz/ A esperança estava longe de mim/ Mas Tu vieste e abriste a porta/ Entraste e limpasse meu ser/ E hoje reinas soberano no trono que há em mim.

O autor também nos avisa que esta mesma salvação, longe de ser mera e unicamente contemplada ou entendida, também deve ser exercida. É o que nos diz a segunda faixa, chamada “Eterno”:

Se hoje vivo é para Ti/ Pra Tua Glória refletir/ E exercer a salvação, em todo tempo.

As cinco faixas restantes seguem o mesmo padrão, ainda que com intensidades teológicas diferentes. Mas o disco é majoritariamente doxológico. “Honra e louvor sempre Te darei/ Pois Tu És Deus/ Tu És Deus, e eu não sou”, diz a faixa de número 5 (“Tu És Deus”). É bem verdade que falta certa profundidade em algumas outras canções, mas pelo menos o autor foge daquele tipo de ambiguidade que vemos em muitos “hinos” contemporâneos, onde não sabemos se certas canções são dirigidas a Deus, às namoradas ou a si próprio. É bem verdade também que, musicalmente falando, o disco possa ser clichê e simplista demais, mas eu particularmente não o trocaria por certas “asneiras sofisticadas” que existem por aí. Para quem curte um som mais acústico tipo “luau”, o cd do nosso Mano é uma boa pedida.

E aqui vou eu, levando as músicas no meu pen drive para ouvir enquanto dirijo. Quanto paguei pelo disco? Nada. Foi “0800” mesmo. Pirataria? Violação dos direitos autorais? Não. Foi o autor mesmo quem disponibilizou para download seu trabalho em mp3 para quem quiser ouvir! E, de lambuja, disponibilizou também as cifras para violão. Acesse eduardomano.net e confira você mesmo. Fica a sugestão.

Soli Deo Gloria!

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[1] É bom que fique claro que estas são apenas as minhas impressões, tanto em relação à referida canção quanto ao disco de um modo geral, e que, portanto, podem não representar necessariamente a opinião de outros calvinistas.

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